As dificuldades enfrentadas em 2014 e o ambiente de incertezas que deve acompanhar o setor durante este ano obrigou as elétricas a adotarem postura mais cautelosa em relação à distribuição de dividendos neste momento. Algumas companhias, como Eletropaulo e Eletrobras, optaram pela não distribuição de dividendos em 2015.
Outras, casos de CPFL Energia e da Cemig, decidiram reduzir o valor de repasse. Tal postura, segundo analistas, evidencia o momento turbulento enfrentado pelo setor elétrico nos últimos trimestres e a falta de clareza sobre o curto prazo, sobretudo em um ano marcado pela expectativa de redução consumo e pelo risco de um racionamento de energia. Essa combinação é agravada pelo custo mais elevado da captação e pela possibilidade de que sejam necessários mais investimentos em 2015.
A menor remuneração das companhias aos investidores detentores de ações do setor já estava desenhada antes mesmo da atual temporada de resultados trimestrais. No início de fevereiro, a Tractebel decidiu adiar a data de divulgação de seu balanço com o intuito de ter condições de “tomar uma decisão fundamentada” em relação à distribuição de lucros referentes ao exercício de 2014. A Cemig também foi cautelosa e decidiu manter R$ 2,41 bilhões em reservas, destinando aos acionistas apenas R$ 797 milhões, via pagamento de juros sobre o capital próprio e dividendos complementares. “É uma postura prudencial em um momento em que devemos defender e blindar a empresa”, salientou o presidente da Cemig, Mauro Borges, na semana passada.
No mesmo dia, o presidente da CPFL, Wilson Ferreira Jr., anunciou medida semelhante. Após aprovar no ano passado a distribuição de R$ 422,2 milhões como dividendo intermediário, referente ao primeiro semestre de 2014, a diretoria da CPFL decidiu propor ao conselho a destinação de R$ 555 milhões à reserva estatutária e não prevê repasse adicional de recursos aos acionistas em 2015. “Esta é uma decisão exclusivamente no sentido de que possamos ter estrutura de capital mais robusta para enfrentarmos um cenário macroeconômico e hidrológico diferenciado”, disse Ferreira.
A postura das duas empresas e de outras elétricas, caso da Light, é reflexo do atual momento do setor elétrico brasileiro. A falta de chuvas e a baixa geração das hidrelétricas afetou a rentabilidade das geradoras de energia em 2014 e continua a prejudicar o setor em 2015. As distribuidoras também sofreram no ano passado, tanto que precisaram de três empréstimos bancários em um total de cerca de R$ 21 bilhões.
“Se as empresas planejam distribuir menos dividendos e estão retendo dinheiro, o fazem por alguma razão. E, ao que tudo indica, é uma medida de prudência em relação ao que vem pela frente, ao risco de perda de rentabilidade”, alerta o analista da área de Energia da consultoria Lopes Filho & Associados, Alexandre Montes.
A Eletrobras foi a única empresa do setor elétrico a apresentar desvalorização nesta segunda-feira, fruto da decisão da companhia de não distribuir dividendos em 2015. Com o prejuízo acumulado em R$ 1,17 bilhão no quarto trimestre, a companhia amargou prejuízo de R$ 3,03 bilhões no ano. O número supera os R$ 2,26 bilhões que a Eletrobras detinha em sua reserva de lucro. Com isso, as ações preferenciais fecharam o dia em queda de 1,69%, sendo negociadas por R$ 7,00.
Ao não distribuir dividendos, ou ao fazê-lo em menor proporção, as empresas protegem o caixa, medida que pode ser considerada fundamental em um ano como 2015. “No contexto atual, no qual a companhia pode ter o caixa comprimido e uma maior necessidade de investimento, seja no crescimento orgânico, seja no surgimento de uma oportunidade, é natural haver maior cautela”, comenta a analista da Concórdia Corretora, Karina Freitas. O momento atual abre possibilidade para operações de fusão e aquisição no setor elétrico, porém também é marcado pela elevação do custo de captações, complementa a especialista.
Lucro
A despeito da postura cautelosa das empresas do setor elétrico, os resultados de 2014 foram melhores do que aqueles reportados em 2013. A explicação está, principalmente, na autorização concedida pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que as distribuidoras voltassem a incorporar a seus resultados os ativos e passivos regulatórios, conhecidos pela sigla CVA. No caso da Eletrobras, por exemplo, o impacto positivo deste ajuste contábil foi de R$ 740 milhões, o que explica a queda de quase 50% no prejuízo anual da companhia.
O resultado consolidado de 18 empresas, com base nos dados apurados pela Economática, totalizou R$ 6,139 bilhões, alta de 214,2% sobre o lucro líquido de 2013. O resultado foi impulsionado, principalmente, pelo menor prejuízo da Eletrobras, pela reversão do prejuízo em lucro da Cesp e pelo melhor resultado da Celesc. O levantamento elaborado pelo Broadcast levou em consideração os resultados de Celesc, Cemig, Cesp, Copel, CPFL Energia, CPFL Renováveis, Cteep, EDP Energias do Brasil, Eletrobras, Eletropaulo, Energisa, Eneva, Equatorial, Light, Neoenergia, Renova, Taesa e Tietê.