Mesmo vivendo período de incertezas, o Brasil exerce ainda muita atratividade e está se aproximando de um ponto de inflexão do qual o investidor estrangeiro não ficará de fora, disse Sérgio Clemente, vice-presidente do Bradesco em entrevista concedida para jornalistas durante o Brazil Investiment Fórum, que acontece em São Paulo. “Um ponto de inflexão se aproxima e o investidor estrangeiro não ficará de fora. Esse ponto de inflexão acontecerá após a divulgação do balanço da Petrobras e com o encaminhamento da crise corporativa e havendo implementação do ajuste fiscal”, afirmou.
“O Brasil continua sendo um mercado relevante, pela profundidade e perspectivas e todos os investidores estão atentos ao movimento, principalmente nesses três pontos”, destacou Clemente. “O balanço da Petrobras está próximo, assim como ajuste fiscal. E a crise corporativa já se dissipou bastante, mas não é possível saber quando estará resolvida”.
Segundo Clemente, o Bradesco não foi ainda chamado oficialmente para assessorar a venda de ativos da Petrobras, mas espera que isso ocorra. “A Petrobras vai sair fortalecida desse processo, que envolve as investigações de seus contratos, porque várias práticas e procedimentos estão sendo revistos e há um olhar estratégico sobre todos os ativos”, comentou.
“Nós e todo o mercado, em algum momento, seremos chamados para assessorá-la e o movimento da Shell e BG não deve trazer ruído para a estratégia de venda de ativos da Petrobras. Nesta quarta-feira, 8, a Shell anunciou a compra da britânica BG em um negócio que soma cerca de 47 bilhões de libras – aproximadamente US$ 69 bilhões. A operação envolve o pagamento em dinheiro e entrega de ações da companhia anglo-holandesa aos acionistas da BG.
Clemente lembrou que há 20 dias foi anunciado que o Bradesco estaria comprando a participação na BR Distribuidora. “Isso não faz sentido, mas o Bradesco espera ser um assessor relevante da Petrobras nessa discussão estratégica. Não fomos mandatados oficialmente e isso tudo está em discussão.”
Cadeia de óleo e gás
De acordo com o executivo, o Bradesco, enquanto banco das principais empresas brasileiras, tem muito bem determinado o perímetro de seu risco, conhecimento do setor e sabemos qual será o impacto das ações em cada uma das companhias que estão na cadeia de óleo e gás.
“A cadeia de óleo e gás tem importância muito grande e está afetada por tudo o que ocorreu com a Petrobras, mas no dia em que a companhia publicar seu balanço e trouxer à luz do dia o valor dos contratos e a validação desses contratos, as coisas começam a andar”, afirmou Clemente.
Clemente observou que o banco não tem restrição a nenhum nome da cadeia de óleo e gás ou empresas que estejam citadas nas investigações da Lava Jato. “Passamos a ser mais seletivos no crédito da cadeia. Não existe política de restrição para quem está inserido nesse contexto, continuo fazendo avaliação baseada em fundamento, em linha com nosso rating de crédito. Conhecemos muito bem o setor e temos relacionamento histórico e balanço para ajudá-las a passar por este período, de modo a nos inserimos no processo de rearranjo no setor.”
O executivo do Bradesco pontuou que, nesse sentido, o banco vê oportunidade nascendo dessa crise. “Essas companhias vão passar por reestruturação de modo mais ou menos relevante e para gerar liquidez haverá oportunidades no mercado de fusões e aquisições”, observou. Clemente destacou ainda que a reprecificação das taxas de câmbio favorece esse movimento.
“O Brasil ficou barato e o baixo crescimento acaba sendo um hedge; ao entrar em um câmbio mesmo com a companhia não performando bem, o preço total do investimento acaba ficando muito bom e atraente”, disse.