A corrida para a Prefeitura de Porto Alegre dá a largada nesta terça-feira, 16, com a perspectiva de que a disputa será uma das mais acirradas dos últimos tempos. Depois de passarem as últimas semanas costurando alianças, os oito candidatos se concentram em fechar suas estratégias para a campanha, que será mais curta e com menos tempo de exposição em rádio e televisão, dadas as novas regras eleitorais. O vice-prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (PMDB), conseguiu o apoio de 14 partidos – entre eles estão PDT, PSB, PPS, DEM, PRP e Rede. De acordo com dados preliminares, a coligação garantirá a Melo quase 40% do tempo de propaganda na TV. Isso corresponde a 3 minutos e 50 segundos em cada bloco de 10 minutos do horário eleitoral fixo.
O segundo maior tempo será do deputado federal Nelson Marchezan Jr. (PSDB), que sai candidato com o apoio do PP, PTC, PMB e PV. Com a coligação, ele terá cerca de 2 minutos em cada horário eleitoral, ou 20% do total. Já o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont (PT) formou uma aliança com o parceiro histórico PCdoB. A estimativa é que a coligação conte com aproximadamente 1 minuto e meio.
O tempo de televisão é praticamente todo distribuído conforme o tamanho das bancadas dos partidos ou coligações na Câmara dos Deputados. Apenas 10% da propaganda é rateada de forma igualitária entre os candidatos. Para Luciana Genro (PSOL), que apareceu em primeiro lugar na única pesquisa de intenção de votos realizada este ano em Porto Alegre, o maior desafio da campanha será justamente driblar a falta de espaço no rádio e na televisão. Com a coligação com PPL e PCB, ela terá apenas 13 segundos em cada bloco de propaganda eleitoral – proporcionalmente, isso representa pouco mais de 2% do tempo total.
Luciana pretende compensar a baixa visibilidade na TV com uma atuação intensa nas redes sociais. Também aposta que a situação política brasileira é favorável ao PSOL. “Há um desgaste muito grande dos partidos tradicionais”, disse ao Broadcast. E a mudança na legislação eleitoral que proibiu o financiamento empresarial de campanha, ela diz, beneficia o PSOL. “Nunca tivemos dinheiro para fazer campanha. Estamos acostumados com essa escassez que os outros estão enfrentando agora.” Em 2014, Luciana ganhou notoriedade ao concorrer à Presidência da República pelo PSOL. Terminou em quarto lugar, com 1,55% dos votos.
Melo, do PMDB, defende que o principal adversário de qualquer candidato será o próprio eleitor. “As pessoas estão muito insatisfeitas com os agentes públicos. Será preciso convencer o cidadão de que a nossa proposta pode trazer mudanças”, disse. Segundo ele, o esforço, no seu caso, passa por admitir algumas falhas das gestões que estiveram à frente da cidade nos últimos 12 anos.
No currículo, o peemedebista tem uma trajetória nos bastidores das disputas políticas. Foi ele, por exemplo, que coordenou a campanha do atual governador gaúcho, José Ivo Sartori (PMDB), em 2014. Melo aposta que, pela limitação de tempo e de recursos, os candidatos precisarão contar com todo tipo de ajuda para levar com clareza suas propostas aos cidadãos. Nesse sentido, acha que será essencial o trabalho dos aspirantes a vereador. “No nosso guarda-chuva, considerando as coligações para as eleições proporcionais, temos 250 candidatos à Câmara Municipal. Aonde não chegarmos, eles podem chegar”, disse.
Nelson Marchezan Jr., do PSDB, tem a simpatia dos grupos que organizaram as manifestações contra a corrupção e em defesa do impeachment da presidente da República afastada, Dilma Rousseff. O Movimento Brasil Livre (MBL), por exemplo, declarou apoio ao candidato tucano, que está no seu segundo mandato na Câmara dos Deputados em Brasília. “Eu quero representar os sentimentos que foram levados às ruas e acho que eles, os movimentos, se sentem representados pela minha atuação”, afirmou.
Ele espera que a sociedade, embora esteja “desapontada com a política”, veja na eleição uma oportunidade de promover um processo de mudança em Porto Alegre. Marchezan compõe a chapa com o PP, que integra a base do governo do prefeito José Fortunati (PDT). “Nossa candidatura não é uma continuidade, mas também não somos oposição pura. Não vamos desmerecer e descontruir. Vamos apresentar novas formas de fazer.”
Um dos mais experientes do grupo – ele já foi deputado estadual, deputado federal e inclusive prefeito de Porto Alegre -, Raul Pont não acredita que o desgaste do PT possa prejudicar sua candidatura. “Acho que o que podia atrapalhar, já atrapalhou”, disse. “Entramos na campanha sabendo que o partido vinha vivendo nacionalmente um massacre brutal contra sigla, mas achamos que seria fundamental disputar essas eleições mesmo que a conjuntura não fosse favorável.”
O discurso de Pont está baseado no combate ao governo do presidente da República em exercício, Michel Temer. “Quase tudo que se faz hoje em Porto Alegre depende de programas e verbas federais. Se isso acabar, o município que já é mal administrado ficará ainda pior. Queremos fazer da campanha um movimento de resistência contra isso”, disse.
Com a expectativa de uma disputa equilibrada, as candidaturas de maior expressão entram na campanha pleiteando chegar ao segundo turno. Completam a lista de candidatos Maurício Dziedricki (PTB), Fábio Ostermann (PSL), João Carlos Rodrigues (PMN) e Júlio Flores (PSTU).