O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, confirmou a deputados do PSOL que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e parentes dele têm contas bancárias na Suíça, que foram bloqueadas por autoridades do país europeu. Com base nessas informações, o PSOL vai representar contra Cunha na próxima terça-feira no Conselho de Ética da Câmara.
Fontes próximas à investigação confirmaram na quinta-feira que o banco usado por Cunha na Suíça foi o Julius Baer, o maior private bank independente daquele país. A informação foi revelada pela Folha de S.Paulo. De acordo com o jornal, o valor bloqueado teria sido de US$ 2,4 milhões.
O site do jornal O Globo informou na quinta-feira que um relatório do Ministério Público da Suíça diz que Cunha fechou duas das quatro contas que mantinha no Julius Baer em abril do ano passado, um mês depois do início da Operação Lava Jato. As contas foram abertas em nome de offshores – como já havia adiantado o jornal O Estado de S. Paulo -, e tinham como beneficiários finais Cunha e a mulher dele, a jornalista Cláudia Cruz.
Segundo a reportagem, as duas contas ainda ativas foram abertas em 2008 e numa delas o destinatário tem residência no mesmo endereço de Cunha e da mulher no Rio de Janeiro. O beneficiário é brasileiro e nasceu em 29 de setembro de 1958, data de nascimento de Cunha.
Ex-funcionários da Petrobras investigados na Operação Lava Jato também foram clientes do Julius Baer, como o ex-gerente executivo de Engenharia da Petrobras, Pedro Barusco, o ex-diretor de Serviços da estatal Renato Duque e o ex-diretor de Internacional Jorge Zelada.
Em Berna, fontes confirmam que o banco está colaborando e que foi dele que veio em abril um informe apontando para suspeitas de lavagem de dinheiro. Oficialmente, a instituição se recusa a comentar o caso.
Um dos fatores que levantaram suspeitas entre os gerentes das contas foi a diferença entre a renda de Cunha e os valores movimentados.
O Ministério Público da Suíça não comentou a informação sobre o valor bloqueado nas contas atribuídas a Cunha no país europeu. Pessoas próximas ao processo indicam que as contas chegaram a movimentar “perto de US$ 5 milhões”. A suspeita dos procuradores brasileiros é a de que Cunha possa ter outras contas no exterior.
Decoro
O documento encaminhado ao PSOL confirma também que o peemedebista é investigado por lavagem de dinheiro e corrupção. “Este documento nos dá o elemento fundamental de uma representação no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar em desfavor do deputado Eduardo Cunha (RJ)”, afirmou o deputado Chico Alencar (RJ), líder do PSOL. “Com este documento formal e oficial, temos plena condição de fazer esta representação. As condições políticas para ele permanecer na presidência acabaram.”
Cunha, mais uma vez, evitou ontem as perguntas sobre as contas na Suíça. “Já falei o que tinha que falar sobre isso”, disse o presidente da Câmara. “Se eles entrarem (no Conselho de Ética), é um direito deles. Responderei na hora que tiver que responder.”
Na semana passada, o PSOL apresentou questionamentos a Cunha sobre a denúncia de que ele e alguns parentes teriam depósitos em contas bancárias na Suíça. Os mesmos questionamentos foram enviados também à Procuradoria-Geral da República, que encaminhou as respostas ontem à noite ao partido.
A Suíça investiga os pagamentos relacionados com a Petrobras desde março de 2014 e pediu que bancos entregassem à Justiça detalhes sobre dezenas de contas. Após o Ministério Público suíço repassar à Procuradoria-Geral da República os dados, caberá agora a Rodrigo Janot decidir se pede abertura de um novo inquérito ou se apresenta nova denúncia contra o peemedebista.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.