Economia

Normalização suave da política monetária dos EUA não está garantida, diz Viñals

O cenário base pelo qual se espera normalização suave da política monetária dos Estados Unidos não está garantido, afirmou nesta manhã o diretor do departamento Financeiro e de Mercado de Capitais do Fundo Monetário Internacional (FMI), José Viñals, em uma entrevista à imprensa para comentar o relatório Estabilidade Financeira Global, divulgado nesta quarta-feira. Por isso, a alta de juros no país pode provocar volatilidade no mercado financeiro mundial.

A divergência de expectativas entre os participantes do mercado e os dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) sobre os rumos da política monetária do país sinaliza que Wall Street tem uma visão mais benigna sobre as perspectivas para a inflação do que os membros do Fed, disse o diretor do FMI. O diretor frisou ainda que os baixos retornos (“yields”) dos títulos de longo prazo do Tesouro dos EUA neste momento sugerem que o potencial é alto de as taxas subirem imediatamente assim que ficar mais claro que está próxima a elevação dos juros no país.

Uma mudança rápida dos “yields” destes papéis podem provocar volatilidade adicional no mercado financeiro mundial, afirmou o diretor do FMI. “Uma normalização suave da política monetária vai continuar a exigir uma comunicação clara do Fed sobre sua estratégia de saída”, disse Viñals.

Na zona do euro e Japão, o FMI vem defendendo as políticas monetárias mais agressivas adotadas pelo Banco Central Europeu e Banco do Japão, com programas amplos de afrouxamento quantitativo. Questionado sobre se essas práticas não poderiam ampliar os riscos para a estabilidade financeira, Vinals afirmou que são justificáveis diante da situação. “Não haveria nada mais problemático do que a ausência dessas políticas, porque isso levaria à depressão, e não somente à recessão”, afirmou na coletiva. Para ele, a estratégia deve ser mantida, mas, ao mesmo tempo, esses países precisam adotar medidas para lidar com os efeitos colaterais provocados pela política monetária expansionista.

Viñals destacou que os riscos para a estabilidade do sistema financeiro cresceram desde outubro, quando o FMI fez sua reunião anual em Washington. Além disso, os riscos mudaram para partes do sistema financeiro que são mais difíceis de serem avaliadas e resolvidas, afirmou. Em um processo que o FMI classifica como “rotação” dos riscos, Viñals ressaltou que muitos deles estão migrando dos países avançados para os emergentes e dos bancos para as instituições que estão à margem do sistema financeiro (chamados de “shadow banks”).

América Latina

Sobre a América Latina, o Fundo avalia que a região tem sofrido com a queda nas commodities e com a exposição às dívidas em dólar, já que grandes empresas tomaram empréstimos em moeda estrangeira nos últimos anos. “Vemos aumento do risco na região”, disse o economista do FMI Chris Walker. “No entanto, a maior parte dos países da região tem estrutura forte.”

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