O Comitê Olímpico do Brasil (COB) terá uma eleição incomum nesta quarta-feira. Pela primeira vez em 40 anos, o pleito presidencial será decidido por mais de dois candidatos, no Rio de Janeiro – o último foi em 1979. O atual presidente, Paulo Wanderley Teixeira, vai tentar um novo mandato contra Rafael Westrupp e Hélio Meirelles Cardoso, num dos pleitos mais disputados dos 106 anos de história da entidade.
A votação será presencial e decidirá quem comandará o COB nas duas próximas edições da Olimpíada de verão – em Tóquio, no próximo ano, e em Paris-2024 -, com um orçamento previsto de R$ 1,2 bilhão para o novo ciclo olímpico.
Têm direito a voto os 35 representantes de confederações olímpicas, os 12 integrantes da Comissão de Atletas do COB e os dois membros brasileiros do Comitê Olímpico Internacional (COI): Andrew Parsons, atual presidente do Comitê Paralímpico Internacional, e Bernard Razman, ex-jogador da seleção de vôlei.
Tanto as confederações quanto os integrantes da Comissão de Atletas estão divididos, embora os esportistas aleguem que pretendem votar em bloco. A decisão deve ser tomada momentos antes do início da votação, às 10h. Além do presidente e do vice, serão escolhidos os membros do Conselho de Administração.
Tentando se aproximar dos atletas, as chapas encabeçadas por Westrupp e Meirelles contam com ex-esportistas como candidatos a vice. O primeiro é acompanhado por Emanuel Rego, ex-jogador do vôlei de praia e que trabalhou na Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania até junho. Meirelles, por sua vez, conta com Robson Caetano, dono de duas medalhas olímpicas.
Dos três candidatos, Westrupp é o mais novo e menos experiente. Reeleito para o segundo mandato à frente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), o dirigente de 40 anos é administrador por formação. Meirelles tem 68, é aposentado da Petrobrás e formado em engenheira química e economia. Dirige a Confederação Brasileira de Pentatlo Moderno desde 2002.
Durante a campanha, ambos criticaram a atual gestão, principalmente quanto à suposta falta de transparência. Também afirmaram que faltou profissionalismo e ousadia a Paulo Wanderley, que assumiu a presidência do COB em 2017 após a prisão de Carlos Arthur Nuzman, de quem era vice.
Desde então, o ex-dirigente do judô, de 70 anos, se esforçou para afastar sua imagem da de Nuzman, com demissões e um esforço, então inédito no COB, de divulgar mais informações sobre a gestão da entidade. Para atletas e dirigentes de outras confederações, não foi o suficiente.
Apesar disso, a chapa de Paulo Wanderley e seu vice, Marco La Porta, é a favorita na eleição, com apoio declarado de 17 confederações. Westrupp conta com oito entidades, algumas de peso, como vôlei, basquete e futebol. E Meirelles, correndo por fora nesta briga, é apoiado por cinco confederações.
A balança pode ser desequilibrada por um episódio sem relação direta com a eleição, protagonizado por Carol Solberg, do vôlei de praia. No mês passado, a jogadora gritou "Fora, Bolsonaro" ao vivo na televisão, após receber a medalha de bronze numa etapa do Circuito Brasileiro. No dia seguinte, a Comissão Nacional de Atletas do Vôlei de Praia repudiou a manifestação da atleta, o que gerou incômodo entre os esportistas, principalmente em relação a Emanuel Rego, presidente da Comissão e candidato a vice na chapa de Westrupp.
A eleição será disputada ainda num contexto de dificuldades econômicas enfrentadas pelas confederações. As menores já tinham problemas sérios antes mesmo da pandemia. Todas buscam soluções de gestão e patrocinadores. O próprio COB, em situação tranquila do ponto de vista financeiro, tem dificuldade para encontrar um patrocinador master, mesmo depois de o Brasil sediar a última Olimpíada.