Pais e estudantes lotam o pátio de entrada da Universidade do Estado do Rio (UERJ) neste sábado, pouco antes do fechamento dos portões para o início das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). A universidade é um dos principais locais de prova no Rio. O clima é de ansiedade entre os estudantes.
Um deles espera há 60 anos pela oportunidade de cursar uma faculdade em uma instituição pública. O aposentado Carlos Alberto Barbosa, 84 anos, tem o sonho de concluir um curso de ensino superior desde quando tinha apenas 20 anos. É o quarto Enem que ele tenta.
“Sempre estive na média de nota entre 500 e 600 pontos. Fiz 560 na redação ano passado”, conta ele, que tenta uma vaga em um curso de Biologia.
Ele diz que ficou entre os estudantes que apesar de aprovados não conseguiram vaga para o curso de Medicina em 1967. Ele chegou a iniciar um curso de Administração na Fundação Getulio Vargas anos mais tarde, mas não conseguiu concluir. “Não consegui terminar. Trabalhava no administrativo da Compania de Limpeza Urbana do Rio. Tinha 3 crianças para sustentar”, conta ele.
Na tentativa deste ano ele diz que contratou apenas uma professora de redação e o resto estudou sozinho pelo computador. “É um sonho. Não tenho pretensão de trabalhar. Só de continuar estudando e aprendendo”, afirma.
Quem faz o Enem pela primeira vez é João Pedro Cunha, de 16 anos. Portador de uma doença na medula e de déficit de atenção, o adolescente contará com auxílio de um professor durante a prova. A mãe dele também terá um espaço reservado para aguardar o filho.
“A organização me ligou e ofereceu um professor-leitor. Também disseram que ele podia fazer a prova oral, mas como esse ano ele vai fazer por experiência decidimos deixar ele fazer a prova escrita. Fomos muito bem assistidos”, explica Monique Aciole, 41 anos, mãe de João Pedro.
Ele tentará uma vaga no curso de Letras – Língua Portuguesa. “Estou um pouco ansioso. Achava que a redação podia ser sobre crise da economia, mas deve ser algo que ninguém está esperando”, conta João Pedro.
O adolescente estava acompanhado da amiga Bruna Brandão, 16 anos, que tenta vaga no curso de Comunicação Visual ou Design Gráfico. “Passei a semana com um grupo de amigos revisando história, física e química. Mas faço curso técnico e tem o trabalho de conclusão também. É muita coisa agora”, diz Bruna.