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Tema de redação do Enem provoca polêmica

No ano em que a menção ao combate à desigualdade entre homens e mulheres foi retirada de vários planos municipais e estaduais de educação, a persistência da violência contra a mulher no País foi o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado neste domingo, 25. A proposta, para especialistas, sinaliza a importância de tratar o assunto, tanto na educação básica quanto na universidade.

Para escrever o texto, os candidatos contaram com uma coletânea de dados que evidenciava a violência de gênero no País. “Esse tema (violência contra a mulher) precisa ser debatido na escola. Queremos que os jovens melhorem a sociedade e que exista uma superação geracional do machismo. Para isso, eles precisam debater o assunto”, defende Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Em vários planos de educação, como o da cidade de São Paulo, metas sobre o combate à desigualdade de gênero e a discussão sobre sexualidade nas escolas foram excluídas após pressão de grupos conservadores e lideranças religiosas. Já a proposta de currículo nacional para a educação básica, apresentada pelo Ministério da Educação (MEC) e ainda em consulta pública, tem referências ao tema. “O debate sobre igualdade de gênero deve ser uma política de Estado, independente de partidos”, diz Cara.

Anteontem, a prova de Ciências Humanas já havia causado polêmica com uma questão sobre feminismo. A pergunta vinha acompanhada de um texto da filósofa francesa Simone de Beauvoir. Entre os críticos, estavam os deputados federais Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Pastor Marco Feliciano (PSC-SP). Feliciano afirmou, em uma rede social, que essa era uma tentativa de “impingir a teoria de gênero goela abaixo”, o que foi rebatido por internautas.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu a abordagem do tema na prova. “As pessoas podem divergir, mas na Educação é preciso estar aberto a refletir, discutir.”

Dificuldade

Para candidatos e professores, a proposta de redação foi mais fácil do que nos anos anteriores. A ampla divulgação do assunto na mídia, dizem, facilita. “Apesar de não ter feito texto na escola sobre isso, soube falar, porque na mídia sempre tratam da violência contra a mulher, mostram histórias e protestos feministas”, disse Lucas Soares, de 17 anos, que fez a prova na capital paulista e quer cursar Engenharia.

Luiza Abreu, de 18 anos, “adorou” o tema. “Nós, mulheres, enfrentamos violência quase todos os dias. Não só sabemos falar sobre isso como também defender que esse tema seja mais debatido”, diz ela, também de São Paulo, que quer Direito.

Professora de redação do Objetivo, Maria Aparecida Custódio vê na Redação a tarefa mais fácil neste ano. “O candidato encontrou dificuldade bem menor do que em 2014 (quando se falou de publicidade infantil). Ano passado, ele podia se posicionar a favor ou contra”, diz.

Eduardo Calbucci, do Anglo, também acredita que a dificuldade foi menor do que nos três anos anteriores. “É um assunto mais palpável.” Diferentemente de outros vestibulares, o Enem ainda exige que o candidato apresente soluções para o tema proposto. A negação do cenário de violência, alerta Calbucci, pode mostrar um candidato “descolado da realidade”.

Mesmo assim, houve alguns na direção contrária. “É uma falta de respeito com os homens, porque trata a mulher como vítima, quando o problema, na verdade, é dela própria”, disse Hugues Maraues, de 55 anos, que fez a prova em Porto Alegre.

“Elas só querem saber de homem rico”, completa ele, que já foi enquadrado por violência contra a mulher na Lei Maria da Penha, também citada na prova. Ele diz ter defendido seu ponto de vista no texto.

Outras provas

Segundo professores, a prova de Linguagens teve enunciados longos, o que deixa o teste mais trabalhoso. Houve referências a autores clássicos, como Graciliano Ramos e Olavo Bilac, e a músicos, como Pixinguinha e Toquinho.

Já a parte de Matemática teve nível alto, com exigência de cálculos mais complexos do que nos outros anos e até com temas menos comuns no Enem, como logaritmo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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