Rio, 27/11/2016 – A “Riqueza” na vida do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) também atendia pelo nome de Adriana Ancelmo. Na intimidade, esse era o apelido da ex-primeira dama do Estado, de 46 anos – que costumava devolver o gracejo com um singelo “Meu Anjo”. No último dia 22, depois de alguns dias de separação, “Riqueza” visitou “Meu Anjo”. Ele está no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio, para onde foi levado, preso, pela Polícia Federal.
No flagrante fotográfico da visita ao sistema prisional, Adriana usa óculos escuros, uma camiseta clara (acompanhada por uma malha preta e fina sobre os ombros) e brincos vistosos. É possível imaginar que aquele par tenha sobrevivido à devassa policial no apartamento em que ela morava com o marido, no Leblon. Lá, foram encontrados outros 22 pares de brincos, três colares, sete anéis, uma pulseira, sete relógios e um pingente. Peças caras (ouro, esmeralda, rubi…), compradas em joalherias como H.Stern e Cartier.
Em seu conjunto, a foto não transmite sinais de sofrimento. Ao contrário, o que se vê ali é discrição, poder e, claro, a própria “Riqueza”.
Nascida em São Paulo, Adriana mudou com a família para o Rio quando tinha 5 anos. De classe média, estudou em colégios públicos e se formou em direito pela PUC. No período em que Cabral foi presidente da Assembleia Legislativa, em 2001, ela já atuava como procuradora assistente da Casa.
As lendas ao redor do namoro, alimentadas pelo próprio casal, dão conta de que eles se conheceram em um dos elevadores da Alerj – e que foi Adriana quem deu o primeiro passo, apresentando-se para o político ascendente, que presidiu a Assembleia de 1995 a 2002. Na época, ela vivia com o advogado Sérgio Coelho, seu sócio no escritório Coelho, Ancelmo & Dourado.
O casamento de Adriana e Cabral ocorreria em 2004, três anos depois do primeiro encontro. Foi descrito como “um festão para 900 convidados, no mítico Copacabana Palace”, por um jornal local. O casal teve dois filhos.
Adriana não foi uma primeira dama vocacionada. No começo, claro, envolveu-se em projetos sociais, organizou jantares beneficentes e cumpriu o papel de “bela, recatada e do lar”. Mas, tirando um ou outro momento em que ciceroneou estrelas internacionais do calibre de Madonna e Carla Bruni, Adriana não demonstrou paciência para cumprir o protocolo.
Não à toa, preferiu concentrar-se na advocacia. No começo, ainda no pequeno escritório que mantinha com o ex-marido e, mais tarde, na estrutura mais agigantada da Ancelmo Advogados. Nos dois escritórios, manteve em sua carta de clientes uma série de concessionárias do serviço público estaduais. Durante o período em que Cabral foi governador esse conflito de interesses foi levantado pelo jornal O Estado de S. Paulo, mas sempre rechaçado pelo casal.
Embora o quadro do Romero Britto, apreendido pela PF durante a Operação Calicute, que levou o “Meu Anjo” para Bangu, passe uma mensagem de “novo riquismo”, Adriana não era uma socialite típica. Quase não era vista em colunas sociais – salvo um ou outro clique na saída do Gero (restaurante caríssimo do Rio).
Quem a transformou em uma personagem mais midiática foi o ex-governador Anthony Garotinho (PR). Em sua vendeta contra Cabral, Garotinho usava o próprio blog para divulgar fotos da vida “nababesca” do casal.
Na publicação, imagens de Adriana em Paris, exibindo o seu sapato Christian Louboutin, um dos mais caros do mundo (hoje custa R$ 3.380) ou pulando com o marido em um show do U2, em Nice, no sul francês.
Garotinho foi “furado”, porém, no caso do anel de ouro, o tal presente de Cabral para a mulher, comprado na famosa joalheria Van Cleef & Arpels, na Place du Casino, em Mônaco, por R$ 800 mil. O mimo teria sido devidamente bancado pelo amigo Fernando Cavendish, cuja construtora cresceu significativamente com obras que ganhou no governo fluminense.
Assim, quando a Operação Lava Jato escancarou o fato de que parte da propina recebida por Cabral seria usada em compras pela primeira-dama, o efeito entre os cariocas não foi aquele “Jura? Não acredito!”
Agora, “Riqueza” é suspeita de lavagem de dinheiro e de ser beneficiária do esquema criminoso, que seria chefiado por “Meu Anjo”. Não se sabe o que os dois conversaram em Bangu. Talvez tenham apenas aceitado as novas circunstâncias como coisas da vida. (Gilberto Amendola, enviado especial) As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.