Um dos quatro acusados de serem os mandantes da chacina de Unaí (MG), Hugo Pimenta afirmou, nesta quarta-feira, 28, que o fazendeiro Norberto Mânica foi o mentor do assassinato dos quatro funcionários do Ministério do Trabalho e Emprego mortos em 2004 e que o crime custou R$ 39 mil. A declaração de Pimenta, que depôs como testemunha, foi dada durante o julgamento de Mânica e de José Alberto de Castro, outro mandante do crime.
Cerealista, Pimenta que trabalhou com os dois fazendeiros julgados afirmou que Mânica frequentava seu escritório e, que em um dia, perguntou: “Não aguento mais aquele Nelson (o fiscal Nelson José da Silva). Não sabe de alguém que o mate para mim?”. Pimenta, que firmou acordo de delação premiada, disse ter negado conhecer alguém, mas que Castro, também presente, teria afirmado conhecer uma pessoa.
A partir daí, relatou ele, Castro entrou em contato com Francisco Pinheiro, acusado de ser o intermediador da contratação dos pistoleiros. O valor a ser pago seria de R$ 25 mil, mas acabou alcançando R$ 39 mil. Parte teria sido adiantada a Pinheiro para iniciar a procura do fiscal, que morava em Paracatu (MG), a cerca de cem quilômetros de Unaí. De acordo com ele, o plano inicial era matar apenas Silva mas os outros funcionários também foram mortos por estarem no carro.
A chacina de Unaí aconteceu na manhã de 28 de janeiro de 2004. Os fiscais do trabalho Nelson José da Silva, João Batista Soares Lages e Eratóstenes Almeida Gonçalves, além do motorista Ailton Pereira de Oliveira, foram executados a tiros dentro do veículo que utilizavam para fazer auditorias em fazendas da região de Unaí, entre as quais propriedades da família Mânica. Os pistoleiros contratados para o crime, que abordaram o grupo em uma estrada vicinal da zona rural da cidade, já cumprem penas que vão de 56 a 94 anos.
Pimenta afirmou ainda ter tentado, duas vezes, convencer o fazendeiro a não mandar os pistoleiros cometerem o crime. “Isso vai parar na mão do Lula (o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que governava o País à época), afirmei para o Mânica”. A resposta do fazendeiro, segundo ele, foi que não havia preocupação quanto a isso. Em outro momento, o fazendeiro teria dito: “O mundo é pequeno demais para mim e o Nelson”.
O cerealista relatou ainda que, um dia após a chacina, o fazendeiro comentou a repercussão do crime. “Mânica me perguntou: viu a repercussão? Respondi: não falei que ia parar no Lula?”, disse. No dia do crime, o então vice-presidente da República, José Alencar, que era presidente em exercício, emitiu nota de repúdio aos assassinatos.
Acareação
Em função das declarações, o juiz responsável pelo caso, Murilo Fernandes, passou a admitir a possibilidade de uma acareação entre Pimenta e Castro. O cerealista depôs na condição de colaborador. Seu julgamento está previsto para 10 de novembro. A pedido de sua defesa, Norberto Mânica e José Alberto Castro foram retirados do auditório onde ocorria o julgamento.
Segundo o advogado de Norberto Mânica, Antonio Carlos de Almeida Castro, Pimenta é o verdadeiro mentor da chacina de Unaí e seu depoimento foi “patético”. Ele diz ainda que poderá pedir uma acareação entre seu cliente e o cerealista. “Ele se desmentiu por várias vezes. Sobre a delação de 2007, todos os pontos aos quais me referi Hugo se retratou. Disse que não se lembrava, fugia das perguntas”, afirmou o advogado.
A fase dos depoimentos das testemunhas de acusação foi encerrada nesta quarta. Nesta quinta-feira, deverão ser concluídas as oitivas das testemunhas de defesa. O ex-prefeito de Unaí Antério Mânica, outro acusado de ser mandante dos assassinatos, irmão de Norberto, será julgado em 4 de novembro.