O PIB do segundo trimestre, divulgado há pouco pelo IBGE, não traz muitas esperanças de que a economia brasileira vá sair da recessão em breve. Para Thiago Biscuola, analista sênior da RC Consultores, “a não ser que haja um milagre de um ajuste fiscal rápido e eficiente, essa situação deve se prolongar por um bom tempo”.
Ele reviu recentemente sua projeção de PIB para este ano a -2,4%, mas diz que depois dos dados de hoje talvez tenha de cortar ainda mais essa estimativa. Para o próximo ano, ele espera algo perto de zero, e não descarta mudar em breve para um número negativo. “Por enquanto, 2016 ainda é uma grande incógnita. Com esse cenário político, mal dá para saber o que vai acontecer em duas semanas. De qualquer forma, não tem como esperar uma recuperação no ano que vem”, comenta.
Para Biscuola, a surpresa no PIB do segundo trimestre, que caiu 1,9% ante o primeiro, foi o tamanho da retração do consumo das famílias, que tem um grande peso na economia. Já a contração dos investimentos era mais esperada e ratifica o cenário dos últimos trimestre.
No caso da indústria, o analista diz que os dados em 12 meses até poderiam indicar que o setor está se aproximando do fundo do poço, mas não há muitas chances de retomada nos próximos dois ou três trimestres. “Alguns segmentos exportadores, como papel e celulose e laminados de aço, têm se beneficiado do câmbio, mas a economia brasileira é muito fechada e a demanda doméstica está fraca, com a queda no consumo das famílias e o aumento no custo financeiro das empresas”, explica. Segundo ele, a construção civil, que foi um dos setores que mais pesou no desempenho da indústria no segundo trimestre, deve continuar muito ruim, com grandes empresas da área mostrando sinais de dificuldades.
O analista da RC Consultores não espera que o BC comece a afrouxar a política monetária em breve. Ao mesmo tempo, a possibilidade de alta nos juros, que chegou a ser aventada recentemente em função do salto do dólar, também parece afastada. “O BC deve manter os juros estáveis. Para convergir e ancorar as expectativas de inflação, a Selic terá de permanecer em patamar elevado por um tempo”.