O elevado endividamento da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que já colocou uma série de ativos à venda para melhorar a situação financeira, deixa a família Steinbruch, dona da empresa, diante de uma situação mais complicada para equacionar suas próprias dívidas.
Por meio de empresas de participação (holdings), os controladores alavancaram a compra da CSN e utilizaram, ao longo dos anos, os ganhos recebidos da própria siderúrgica para pagar os juros. Agora, com a possibilidade de redução dos dividendos e aumento do custo da dívida, que acompanha a taxa básica de juros da economia (Selic), os membros da família estão negociando alternativas para defender seu patrimônio.
O endividamento das holdings da família Steinbruch, Rio Iaco e Vicunha Aços, soma cerca de R$ 3 bilhões, enquanto os juros anuais estariam em torno de R$ 300 milhões e R$ 400 milhões, já embutindo a movimentação recente da Selic. Para fazer frente a esses compromissos, a CSN precisaria distribuir anualmente, entre dividendos e juros sobre capital próprio, algo entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões de forma a evitar que a família precise tirar dinheiro do bolso para pagar a remuneração aos credores, afirmou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, uma fonte próxima ao assunto.
Agora, no entanto, a companhia está deixando de figurar na lista das maiores distribuidoras de dividendos, onde ganhou espaço nos últimos anos, a despeito do ambiente desfavorável vivido pelo setor siderúrgico. Depois de pagar cerca de R$ 500 milhões no primeiro trimestre do ano, a CSN já anunciou que os dividendos estão, neste momento, fora da agenda da empresa, diante do esforço de redução das dívidas. Procurados, a CSN e Benjamin Steinbruch não comentaram.
A dívida da família Steinbruch foi contraída para comprar a fatia dos Rabinovich, seus antigos sócios, e pagar o BNDES na época do descruzamento das ações da CSN e Vale.
Composição. A dívida da Rio Iaco, que tem participação de 4,2% na CSN, está atrelada a debêntures de R$ 1,656 bilhão, com juros de 114,75% do CDI, que estariam em poder do Bradesco. A Vicunha Aços, controladora da CSN com 51,3%, é emissora de R$ 797 milhões de debêntures que estão com o Banco do Brasil e vêm de uma rolagem também de debêntures da Vicunha Siderúrgica, como parte da estrutura financeira montada para adquirir a CSN décadas atrás.
Pessoas próximas ao realinhamento das dívidas da CSN afirmam que as conversas envolvem todo o grupo. A intenção seria preservar o patrimônio da família. As debêntures da Rio Iaco, detidas pelo Bradesco, e as da Vicunha Aços, que estão com o BB, possuem como garantia real ações da CSN detidas pelas holdings.
A emissão de debêntures da Rio Iaco, por exemplo, possui como garantia fiança prestada por “Rio Purus Participações S.A, Dorothéa Steinbruch e Benjamin Steinbruch” e, além disso, a alienação fiduciária de ações ordinárias da CSN. Conforme fontes, hoje a dívida da família já corresponde a cerca de um terço da participação na CSN, que estaria empenhada com os bancos credores.
A companhia
A dívida elevada vem pressionando a CSN, que montou uma agenda financeira para ajustar sua situação. Neste ano, a companhia contratou Paulo Caffarelli, que ganhou a missão de montar uma força tarefa para reduzir o endividamento e a alavancagem, em meio a um cenário de demanda comprometida por aço no mercado interno e de ciclo de baixa do minério de ferro.
Caffarelli fez carreira no Banco do Brasil, maior credor da CSN, além de ter passagem pelo ministério da Fazenda. Outros importantes credores, segundo fontes, são o Bradesco e a Caixa. Uma das frentes da siderúrgica tem sido a venda de ativos fora do negócio principal (core business). Nessa estratégia, BB, Bradesco BBI, Credit Suisse e Goldman Sachs estão cada um com alguns ativos em mãos em busca de compradores.
A dívida líquida ajustada da CSN ao fim de junho estava em R$ 20,769 bilhões. A alavancagem da companhia, medida pela razão de dívida líquida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), atingiu 5,61 vezes ao final do segundo trimestre deste ano. O indicador era de 2,71 vezes no mesmo período de 2014 e estava em 4,76 vezes nos três primeiros meses deste ano.
O alerta entre investidores se traduz pelo comportamento dos bônus de dívida da empresa, que despencaram cerca de 30% logo após a divulgação do balanço do segundo trimestre. Desde então, operam em níveis que sinalizam temores de calote ou reestruturação de dívida.
No exterior, também se comenta sobre o endividamento das holdings e eventual impacto nos papéis. Os estrangeiros aguardam agora a venda de ativos, acreditando que esta será a saída mais rápida para as atuais dificuldades da companhia.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.