O Banco Central demonstra ter cedido à percepção da sociedade de que o aperto monetário está sendo muito forte, ao manter a Selic (a taxa básica de juros) em 14,25% ao ano. A avaliação é do economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Para ele, será pior para a atividade econômica manter a Selic inalterada do que aumentar os juros agora e cortar no ano que vem.
“Parece uma boa notícia, porque o Copom não subiu a taxa de juros agora. Mas, levando em conta que o BC vai deixá-la elevada por mais tempo, é pior”, criticou Perfeito, defendendo que um aumento de 0,25 ponto porcentual da Selic hoje seria “suficiente” para sinalizar ao mercado a rigidez no combate à inflação. “Talvez o BC tenha cedido à percepção da sociedade de que o aperto está sendo muito forte”, disse.
O economista-chefe da Gradual Investimentos avaliou ainda que a forte queda da produção industrial e a piora do mercado de trabalho em julho devem ter pesado na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 14,25% na reunião encerrada hoje. “Talvez ele tenha sentido que a desaceleração está bastante forte e que não seja necessário alterar a taxa”, afirmou.
Perfeito ressaltou ainda que “não entendeu” o fato de o BC ter mantido, no comunicado divulgado nesta quarta-feira, 2, o mesmo teor do documento anterior, uma vez que o balanço de riscos piorou. “As expectativas para 2016 não estão ancoradas, a parte fiscal e o câmbio pioraram. Tudo isso em conjunto mostra que o balanço piorou. Por isso, achava que a Selic iria subir”, disse.
Na avaliação do economista sênior do Besi Brasil, Flávio Serrano, ao manter a Selic estável em 14,25% ao ano e repetir o comunicado da reunião anterior, de julho, o Copom parece entender que o aperto promovido até agora ainda é capaz de acomodar a recente piora do balanço de riscos para a inflação. Para ele o Banco Central pode voltar a agir se o câmbio continuar subindo e/ou permanecer em patamares tão elevados.
De acordo com o economista, o Banco Central pode atribuir o recente movimento do dólar a fatores transitórios e a eventos não econômicos. “Mas se o dólar continuar subindo, pode, de fato, demandar uma reação da política monetária”, frisou. Por isso, segundo Serrano, em um ambiente de maior tranquilidade, as taxas curtas, que passaram a precificar chances de aperto de 0,25 ponto em outubro e novembro, deveriam cair. “Mas esse movimento de ajuste das taxas vai depender do câmbio”, afirmou.
Serrano destacou que boa parte da inflação de 2016 já está contratada, diante da dinâmica de preços e de fatores como a inércia inflacionária e a indexação. Por isso, continuou, o importante é a manutenção da ancoragem das expectativas, especialmente a partir de 2017. “É claro que uma piora significativa das expectativas para o próximo ano pode demandar uma ação adicional do Banco Central”, concluiu.
Decisão correta
A economista-chefe da XP Investimentos e colunista do Broadcast, Zeina Latif, avalia que nesse momento de baixo crescimento da economia, e de menor repasse da variação do câmbio para a inflação, o Copom foi correto em manter a taxa básica de juros em 14,5% ao ano.
De acordo com ela, o câmbio tem se depreciado por influências da política fiscal. “Nesse caso, o fiscal é o instrumento que está fora do lugar e é nele que se deve mexer”, disse. Como o câmbio exerce efeitos de segunda ordem sobre a inflação, de acordo com a economista, mantém-se a taxa básica de juros, como fez o colegiado, e espera para ver o que vai acontecer com a economia.
Sobre a decisão do Copom em manter o mesmo teor do comunicado da reunião passada, Zeina diz que ela traz uma mensagem muito importante para uma parte do mercado que estava precificando aumento da Selic na reunião de outubro. “É importante colocar que quando olhamos a curva de juros tem apostas para alta da Selic. Estas apostas estão considerando as más notícias de fiscal e câmbio. Ou seja, as apostas estão sofrendo a pressão do câmbio, que por sua vez sofre com a pressão do fiscal. Então a manutenção do comunicado é relevante para essa parcela do mercado”, disse Zeina.
Antes, lembra a economista, a manutenção do comunicado era endereçada aos que se propunham a antecipar a discussão em torno da redução prematura da taxa Selic. Mas desta vez, de acordo com Zeina, a decisão foi para os que apostam na alta.