Mais duas tendas para moradores de rua foram inauguradas na terça-feira, 28, pela Prefeitura de São Paulo, mas tiveram baixa adesão. As estruturas, montadas no Vale do Anhangabaú, no centro, e na Mooca, na zona leste, não tiveram fluxo de interessados e, na primeira hora de funcionamento, a unidade da zona leste fez somente um acolhimento.
As tendas foram uma promessa da gestão Fernando Haddad (PT) após a morte de cinco moradores de rua, contabilizadas pela Pastoral do Povo de Rua, durante uma onda de frio no início deste mês. As tendas vão funcionar das 18 às 7 horas e foram inauguradas com espaço para animais de estimação e carroças. Mesmo assim, não atraiu as pessoas em situação de rua. Inicialmente, elas estão com 50 vagas, mas com capacidade de receber mais usuários.
Há um ano morando na Praça do Patriarca, no centro, a tatuadora Angélica Martins Akehiro, de 28 anos, disse que não trocaria a barraca onde vive pelos abrigos municipais. “A gente já conhece as pessoas aqui, ninguém mexe nem rouba nada. Eu não vou para o abrigo sem meus bichos e os meus dois cachorros não se dão bem. Imagina com os bichos dos outros.”
Experiência em albergue, só teve uma vez. “Fiquei duas horas e fui embora. Não dá para saber quem dormiu na cama, fiquei com alergia.”
A nova tenda do Anhangabaú fica a poucos metros de uma área onde várias pessoas dormem em barracas. Mesmo assim, nenhuma foi ao local nem para pedir informações. “O morador de rua gosta de ver acontecer para tomar a decisão. Ele precisa saber se é bom, confortável, se ninguém está perturbando”, diz o orientador social Romero Barbosa, que mora no local há duas semanas.
Ele diz que, na rua, a informação passada boca a boca faz muita diferença. “Tudo depende do tratamento que o morador de rua vai receber lá dentro. Se alguém não gostar, vai falar para outro, que nem vai conhecer para não ter a decepção.”
O músico Douglas Silva, de 37 anos, viu a tenda montada do outro lado do viaduto onde tem dormido há 15 dias, mas não sabia que já podia se abrigar ali. “Morava em uma pensão e não consegui pagar. É a primeira vez que fico nesta situação. Não me sinto bem no abrigo, mesmo sabendo que a pessoa está livre de alguém te fazer mal.”
Ao saber do funcionamento da tenda, Silva se interessou. “Pelo que vi, gostei. É organizado. Quero mais informações.”
Movimento
Inaugurado há uma semana, o abrigo na Galeria Prestes Maia também não teve uma procura expressiva. Com capacidade para 500 pessoas, a unidade recebeu entre 145 e 310 pessoas nos últimos dias. Desde o segundo dia de funcionamento, Leonardo Santos Martins, de 30 anos, está dormindo no abrigo. Ele mora na rua desde fevereiro, quando ficou desempregado.
“Algumas pessoas preferem a rua por não ter horário para levantar. Eu dormia nas ruas e, agora, estou nos abrigos emergenciais, mas quero uma vaga fixa em um albergue para ter um endereço.”
Leonardo disse que o problema da unidade na Galeria Prestes Maia é a falta de higiene. “Deixa a desejar porque não estão trocando os cobertores.”
Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) informou que os moradores de rua “não são obrigados a aceitar os encaminhamentos para o abrigo emergencial ou para qualquer serviço socioassistencial”.
A pasta disse que as demais tendas serão montadas se houver procura, mas informou que há 1 mil vagas ociosas nos 80 centros de acolhida fixos e nos 15 emergenciais. Sobre a troca de cobertores, a secretaria disse que o procedimento é feito, mas que, “caso o mesmo morador durma na mesma cama na noite seguinte, poderá usar o mesmo cobertor”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.