Ao divulgar prestação de contas nesta sexta, 4, a força-tarefa Greenfield – que investiga fraudes em fundos de pensão e atuou em apurações como a do bunker dos R$ 51 milhões do ex-ministro Geddel Vieira Lima – confirmou o afastamento do procurador natural Anselmo Henrique Cordeiro Lopes e afirmou que enfrenta um cenário de grave deficiência estrutural e dificuldades junto à Procuradoria-Geral da República. Conforme antecipado pela <b>Coluna do Estadão</b>, Anselmo trocou de ofício com Cláudio Drewes, procurador-chefe do Ministério Público Federal no Distrito Federal, sendo que a mudança começa a valer na próxima terça, 8.
Anselmo era o único procurador exclusivo da Greenfield, que no início de seus trabalhos contava com cinco integrantes que se dedicavam somente às investigações do grupo. Juntamente com o relatório das atividades da chamada terceira etapa da força-tarefa, a Procuradoria da República no Distrito Federal divulgou uma carta aberta escrita pelo procurador natural explicando sua decisão de se afastar dos trabalhos da Greenfield. O procurador afirmou que sua saída foi motivada pela insatisfação com a insuficiência de dotação de uma estrutura adequada de trabalho à Força-Tarefa.
"Hoje, a Greenfield é um universo imenso de casos e investigações, que envolve cifras bilionárias (ou trilionárias, considerando que temos dados bancários que somam cerca de três trilhões de reais, ao todo, em casos de nosso Simba), sendo de grande relevância e impondo enorme responsabilidade, não sendo possível que um só procurador da República se dedique com exclusividade a esse complexo investigativo. Por maior que seja o espírito público e a vontade de lutar pela Justiça, permanecer como único membro de dedicação exclusiva à força-tarefa pareceu-me inaceitável", afirmou.
A mudança da Greenfield se dá em meio a um período delicado para diferentes forças-tarefa do País. Na terça, 1º, o procurador Deltan Dallagnol anunciou sua saída do comando da Lava Jato em Curitiba para cuidar da saúde da família. No dia seguinte, os procuradores da força-tarefa paulista pediram demissão em massa por incompatibilidades insolúveis com a procuradora natural do ofício ao qual o grupo é ligado.
No relatório das atividades realizadas pela equipe entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Greenfield aponta ainda que o período foi marcado por reduções na força de trabalho e por dificuldades na prorrogação da FT pela Procuradoria-Geral da República. A força-tarefa diz que solicitou a prorrogação dos trabalhos por sucessivas vezes, tendo o procurador-Geral da República, Augusto Aras, autorizado a continuidade das atividades no último dia de prazo previsto, mas deixando apenas um procurador dedicado às investigações.
"Assim, desde o dia 1º de julho deste ano, a força de trabalho da FT, que já era bastante aquém do necessário (como reiteradamente comunicado à Procuradoria-Geral) para alcançar seus objetivos de maneira eficaz e eficiente, em prazo razoável (afastando-se o risco de prescrição), sofreu grave prejuízo, considerando que todos os membros da FT Greenfield, com exceção apenas do procurador natural, passaram a acumular os trabalhos da FT com o trabalho ordinário de suas lotações de origem", registrou a força-tarefa.
Segundo os procuradores, a estrutura proporcionada pela última decisão da PGR incrementa o risco de prescrição das metas ainda não cumpridas, já que o prazo para alcançá-las no cenário definido pelo órgão passou para setembro de 2042.
<b>Números</b>
No ofício em que prestam as contas sobre os trabalhos do último ano, os procuradores destacam os números alcançados pela força-tarefa e também alertam sobre a imensidão de informações a serem apuradas e a evidente necessidade de que os trabalhos sejam continuados.
Além dos crimes financeiros relacionados a fraudes nos maiores fundos de pensão do país, a Força-Tarefa também atua nas Operações Sépsis, Circus Maximus, Conclave, Tesouro Perdido, Patmos, Cui Bono – no esquema conhecido como quadrilhão do MDB- e Skala – relacionada ao Inquérito dos Portos. A Greenfield é responsável por 48 ações penais e 27 de improbidade. Faz a gestão de acordos de leniência, de colaboração e de reparação envolvendo o pagamento de mais de R$ 11,8 bilhões.
O Plano de ação da Força-Tarefa possui atualmente 188 metas, das quais 78 foram cumpridas. Os procuradores precisam analisar ainda dados de 435 investigados e quase R$3 trilhões em movimentações financeiras a crédito e a débito já com sigilo bancário afastado e incluídas no Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias – o Simba.