Os juros futuros fecharam em leve baixa, passando incólumes à virada do dólar para cima e resistindo também ao mau humor vindo do exterior. A melhora na percepção de risco político com o encaminhamento de parte das reformas ao Congresso ainda foi o principal fator a ancorar as taxas, com as longas caindo pouquinho mais do que as curtas. Com isso, os níveis de inclinação cederam novamente, mas ainda são considerados elevados porque a incerteza sobre a área fiscal persiste.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 2,74%, de 2,793% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 3,964% para 3,90%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 5,69%, de 5,764% na quinta. A taxa do DI para janeiro de 2027 recuou de 6,723% na quinta para 6,64%.
Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, afirma que a curva "tem prêmio para os dois lados". A ênfase na necessidade de ajuste fiscal dada pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, em evento virtual nesta sexta-feira, foi destacada como fator positivo para o mercado, que também segue se apegando na leitura de avanço da pauta liberal, numa semana de envio da reforma administrativa e da proposta de Orçamento de 2021 ao Congresso, além da aprovação da Lei do Gás na Câmara.
"Na verdade, sabemos que não é uma reforma (administrativa), é um puxadinho, pois não prevê mudanças estruturais. Mas, de qualquer forma, é um avanço e deu uma sinalização positiva", disse. Além disso, de acordo com Nepomuceno, o mercado vê com bons olhos a postura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de, segundo ele, tentar dar celeridade à tramitação das matérias.
Nesse contexto, a curva não esboçou reação ao rompimento das relações entre Maia e o ministro Paulo Guedes. Maia relatou que Guedes proibiu contato entre ele e a equipe econômica e, por isso, agora as conversas sobre as reformas serão feitas somente com o secretário de Governo, General Ramos.
Tampouco trouxe desconforto a informação de que Maia pediu na quinta para que fosse retirado o pedido de urgência para a tramitação da primeira etapa da reforma tributária enviada ao Congresso, para que a pauta da Casa não ficasse trancada.
Também teve impacto neutro a afirmação, na quinta, do presidente Jair Bolsonaro, de que espera que a Selic caia "daqui a uns 30 dias". Até porque Fabio Kanczuk foi muito claro nesta sexta de que "é improvável que tenha nova queda de juros". "Se acontecer nova queda de juros, ela será pequena", salientou, reforçando o que já dizia o Copom no último comunicado.
Ele também enfatizou a importância da política fiscal para o futuro da Selic. "Todas as decisões, inclusive as de política monetária, estão sendo brutalmente influenciadas pelo fiscal", comentou.