O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alencar Burti, afirmou que o Banco Central (BC) já tinha condições de reduzir a taxa básica de juros da economia, em vez de manter a Selic, em 14,25% ao ano, como anunciado nesta noite de quarta-feira, 27, pelo Comitê de Política Monetária (Copom)
“Entendemos que, ao optar pela manutenção da taxa de juros, o Banco Central age com cautela, por estar na expectativa por alterações na política econômica, decorrentes de uma provável mudança de governo”, disse Burti, em nota divulgada à imprensa. “Mas o BC poderia ter dado início a uma diminuição da Selic, tendo em vista os sinais de desaceleração da inflação.”
Na avaliação do economista Mauro Schneider, da MCM Consultores, o comunicado divulgado pelo BC, que destaca que neste momento não há espaço para flexibilização da política monetária, mostra que é improvável uma redução da taxa básica de juros na próxima reunião do BC, prevista para os dias 7 e 8 de junho.
Schneider pondera, no entanto, que o comunicado reconhece os avanços na política de combate à inflação e que isto significa que “as portas estão abertas” para a queda dos juros depois da reunião de junho. Para ele, como os operadores do mercado financeiro já estavam esperando um início do ciclo de afrouxamento da política monetária no segundo semestre, o comunicado vem para reforçar esta percepção.
“É como se o BC dissesse o seguinte: se a inflação continuar andando nesse ritmo (de desaceleração), se houver avanços adicionais na política de combate à inflação, haverá espaço para redução da Selic”, explicou. Além disso, Schneider avalia que o fato de os diretores terem votado de forma unânime pela manutenção da Selic também mostra um “conforto crescente” com a evolução da taxa de inflação.
Já o economista e especialista em crédito Nicolas Tingas avalia que a unanimidade dos votos dos diretores do BC no Copom pela manutenção da Selic em 14,25% ao ano se justifica pela redução e maior proximidade da inflação à meta.
Para ele, a mudança da taxa não era esperada porque o mercado entende que a curva da inflação precisa confirmar de uma vez por todas que está caminhando para a convergência à meta e porque a deterioração fiscal se dá numa velocidade alta.
“O problema central de qualquer governo, seja Dilma ou Temer, é o fiscal. É vital que a política fiscal passe a ancorar as expectativas dos analistas do mercado”, disse o economista e consultor.
Para ele, com o atual quadro fiscal, em que Estados e municípios estão com suas finanças cada vez mais prejudicadas, a margem de manobra da política monetária só tende a diminuir.