Economia

BNDES começa a reforçar caixa com venda de ações de empresas na Bolsa

A empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, a BNDESPar, espera lucrar entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões neste segundo semestre com a venda pulverizada de participações acionárias em empresas. As principais apostas para alcançar o lucro desejado no período são as companhias de papel e celulose Fibria e Suzano – empresas exportadoras, que têm sido beneficiadas com a disparada do dólar e o aumento do preço da celulose no mercado internacional – e a gigante de alimentos JBS.

O objetivo é encorpar a capacidade do banco para desembolsos diante da decisão do governo de extinguir os repasses extraordinários do Tesouro que reforçaram o caixa do banco de fomento em mais de R$ 450 bilhões desde 2008. De acordo com dados oficiais, o saldo devedor do BNDES com o Tesouro atualmente supera R$ 521 bilhões.

Segundo apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, apesar do mau desempenho do Ibovespa, o banco tem identificado ações com desempenho positivo e concentra nesses títulos o desinvestimento desses papéis.

O BNDES, que detém participação relevante no capital dessas três companhias (Fibria, Suzano e JBS), por enquanto, não cogita vendas em bloco dessas ações, que são realizadas por meio de leilões. A negociação tem sido feita de forma pulverizada na Bolsa.

Na Fibria, resultado da união entre Aracruz e VCP (Votorantim Celulose e Papel), a BNDESPar detém 29,08% do capital; no JBS, 23,19% (a Caixa é outro acionista relevante do grupo, com 10,07%), e na Suzano, 6,85%, de acordo com dados oficiais das empresas até o mês de agosto.

A carteira de ativos da BNDESPar é composta de ações, participações societárias, debêntures, cotas em fundos de investimentos e derivativos.

A atuação mais agressiva do banco nesse período de crise é atribuída, segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, a uma pressão do governo para que o banco passe a caminhar com as próprias pernas, sem suportes do Tesouro. De acordo com fontes do mercado financeiro ouvidas pelo Estado, a BNDESPar deveria ter começado esse movimento de vendas há mais tempo.

Sérgio Lazzarini, professor do Insper, afirmou que o banco precisa realizar esse movimento de venda para fazer caixa. “Essas três empresas particularmente são consideradas as joias da coroa do banco”, disse.

Levantamento feito pelo Insper mostra que o maior peso da carteira a BNDESPar vem de ações, que até junho deste ano representava 72% do ativo total (R$ 77,025 bilhões). Nessa carteira, as empresas são divididas em empresas coligadas (nas quais o banco possui alguma influência nas decisões financeiras e operacionais) e em não coligadas, que o banco mantém como investimento.

Entre dezembro de 2013 e junho deste ano, o banco de fomento não alterou significantemente a quantidade de ações em carteira, mantendo a estratégia de investimentos para longo prazo, de acordo com estudo feito pelo Insper.

Isso é sinal de que a BNDESPar começou esse movimento de se desfazer de ações de empresas recentemente, segundo fontes.

A carteira do banco estava mais exposta, nesse período, em empresas como a Petrobras, JBS, Fibria e Vale, de acordo com o Insper. “Não é um bom momento agora para se vender ações da Petrobras”, disse Lazzarini.

Mais caixa

Segundo uma fonte do mercado financeiro, a BNDESPar pode levantar no curto prazo de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões com venda de participação de ações de empresas, nas quais detém fatia. No longo prazo, pode chegar a R$ 15 bilhões.”

Enquanto o Índice Bovespa acumula queda de 5,29% este ano e desvalorização de 18,26% em 12 meses, os papéis do JBS registram alta de 8,1% neste ano e elevação de 6,47% em 12 meses. As ações da Suzano acumulam alta de 70,5% em 2015 e de 95,7 em 12 meses. A Fibria tem alta de 67,5% neste ano e de 109,06 em 12 meses.

Procurado, o BNDES informou, por meio de sua assessoria, que o banco e sua empresa de participações não comentam estratégias de investimentos e desinvestimentos. A BNDESPar declara resultados pelo critério de equivalência patrimonial, ou seja, tem lucro ou prejuízo de acordo com o desempenho das ações de sua carteira. A empresa contribui anualmente para o desempenho do banco com operações de compra e venda no mercado. Em 2011, o lucro obtido superou R$ 4 bilhões; no ano seguinte, foi registrado prejuízo de R$ 104,5 milhões; em 2013, lucro de R$ 1,5 bilhão e, em 2014, saldo também positivo de R$ 2,9 bilhões.

As empresas de papel e celulose Fibria e Suzano não vão comentar o assunto. Por meio de nota, o grupo JBS, da família Batista, informou que “em respeito a todos os seus acionistas, a JBS não comenta a movimentação que os mesmos fazem com as ações da companhia no mercado.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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