O noticiário político voltou a determinar a direção das taxas de juros negociadas no mercado futuro nesta quarta-feira, 23. Os fatos mais recentes aumentaram as incertezas dos investidores em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, o que justificou o aumento dos prêmios, principalmente nos contratos com vencimentos mais longos. Nos vencimentos curtos, as taxas ficaram praticamente estáveis, influenciadas pela desaceleração da inflação medida pelo IPCA-15 de março.
As taxas já iniciaram o dia pressionadas para cima, em repercussão à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki de tirar do juiz Sérgio Moro e devolver à Corte os processos que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A vitória parcial de Lula na batalha jurídica em torno das investigações que o envolvem enfraqueceu as apostas no impeachment da presidente Dilma e pressionou também o dólar, que subiu além de 2% durante todo o dia.
Já a desaceleração do IPCA-15, que recuou de 1,42% em fevereiro para 0,43% em março, foi um contraponto que conteve as taxas dos vencimentos mais curtos. A desaceleração reforça a teoria de que a recessão econômica provocará efeitos desinflacionários. Por consequência, a inflação menor alimenta apostas em um afrouxamento monetário, embora o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tenha descartado essa possibilidade no curto prazo, em discurso no Senado, na ontem.
Também tiveram influência no mercado as notícias relacionadas à Odebrecht. Horas depois da notícia da adesão dos executivos da construtora à delação premiada foram reveladas listas com nomes de mais de 200 políticos, de 18 partidos, que teriam recebido doações do grupo. Os documentos foram apreendidos ontem na 26ª fase da Lava Jato.
O mercado recebeu com cautela os dados da lista, devido à incerteza quanto à legalidade das contribuições. De todo modo, a ausência do nome de Michel Temer na lista gerou certo alívio, por não indicar inviabilização da substituição da presidente pelo vice. As delações da Odebrecht, no entanto, ainda nem começaram e podem trazer elementos novos ao cenário.
Ao final dos negócios na BM&F, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em julho de 2016 fechou com taxa de 14,08%, contra 14,07% do ajuste de ontem. O vencimento de janeiro de 2017 terminou em 13,72%, ante 13,71%. O DI para janeiro de 2018 subiu de 13,31% para 13,42% e o de janeiro de 2021 saltou de 13,61% para 13,85%.