O Banco Central manteve praticamente inalteradas suas projeções para expansão do crédito em 2015. Para o crédito total, segundo informou nesta quarta-feira, 23, o chefe do Departamento Econômico da instituição, Tulio Maciel, foi mantida a expectativa de 9%. A única mudança foi na perspectiva para o crédito nos bancos privados nacionais, cuja previsão passou de 4% para 3%. “Mantivemos em agosto tendência moderada do crédito que já vinha sendo observada e essa moderação está em linha com nossas projeções”, explicou.
Maciel relatou ainda que a previsão para o crédito livre foi mantida em 5%; para o direcionado, em 14%; para os bancos públicos, em 13%, e para os bancos privados estrangeiros, em 7% – sem qualquer alteração. Há uma tendência, olhando série de longo prazo, de crescimento menor para o crédito. A base também está maior e isso afeta a taxa de expansão.
“Crescer sobre uma base baixa é mais fácil”, ponderou o representante do BC. Ele informou ainda que o crédito direcionado tem desacelerado mais fortemente que o livre e salientou que agosto, assim como julho, é mês mais fraco para liberação de financiamentos.
Para exemplificar a desaceleração, ele lembrou que em 2008 o crédito cresceu 31%; em 2010 avançou 20%; em 2012, 16%; e em 2014, 11%. “A tendência de moderação da expansão de crédito é estrutural e de longo prazo”, observou. “O custo dos empréstimos mais alto e a atividade econômica são fatores que afetam o ciclo de crédito”, explicou.
Crescimento sustentável
Tulio Maciel destacou ser “natural e salutar” para o próprio sistema que o crescimento do mercado de crédito seja menor, mas sustentável. Ele lembrou que a relação com o Produto Interno Bruto (PIB) atualmente está em 56% e que essa taxa era de 20% há cerca de 10 ou 20 anos. “Tivemos um avanço importante nesse período em termos de base de crédito. Atingido esse patamar, é natural que tenhamos crescimentos menores”, salientou.
Questionado sobre se a projeção do BC de expansão de 9% para o mercado este ano é o novo ritmo do setor para o Brasil, o técnico disse que não se atreveria a dizer qual é o porcentual a ser considerado como o mais adequado. “Depende de condições diversas, mas é razoável supor que venha a prevalecer à frente (essa taxa)”, afirmou.
Maciel avaliou que o País ainda tem espaço ainda crescimento do mercado de crédito. “Em alguns países desenvolvidos, essa relação com o PIB é de mais de 100%”, disse.
Quando perguntado sobre comparações com países mais parecidos com o Brasil, ele comentou que esse paralelo é preciso ser feito com cuidado por causa das diferenças de mercado de cada local. “Geralmente onde crédito/PIB é mais acentuado, a participação do crédito imobiliário tem destaque”, considerou.
No Brasil, essa taxa atualmente está em 9,6% do crédito imobiliário total com taxas livres e reguladas, o que pode ser considerado baixo para os padrões internacionais. Ele disse ainda que há outras modalidades que também possuem espaço para crescimento.
Instituições públicas
De acordo com os dados de agosto do BC, as instituições públicas voltaram a puxar o aumento do estoque de crédito em agosto ante julho. Houve avanço de 1%, para R$ 1,737 trilhão. No acumulado do ano, a alta está em 7% e, em 12 meses, de 14,3%.
As instituições financeiras estrangeiras apresentaram o segundo maior crescimento na margem em agosto, de 0,5%. O estoque desse grupo está em R$ 451,420 bilhões. No ano, a alta é de 2,3% e, em 12 meses, de 7,4%. Já os bancos privados nacionais registraram um incremento de 0,2% do estoque na comparação mensal, para um total de R$ 943,693 bilhões. No ano, há queda de 1% e, em 12 meses, alta de 2,9%.
A inadimplência ficou estável na margem para as instituições nacionais, públicas ou privadas. No caso das estrangeiras, houve uma leve alta de 0,1%. Houve aumento das provisões apenas no caso das instituições financeiras privadas nacionais, de 7,1% para 7,3%. Nos demais grupos, houve estabilidade na margem.
Endividamento das famílias
O Banco Central ainda não atualizou os dados do endividamento das famílias e divulgou nesta quarta-feira apenas o resultado de junho. Pelos números da instituição, o endividamento total ficou em 45,8% em junho – excluindo o crédito imobiliário, ele cai para 27,1%
A instituição começou a fazer o levantamento em janeiro de 2005 e o retrato sobre o nível de dívidas brasileiras passou a ser incorporado na nota de crédito pelo BC em agosto. O cálculo do BC leva em conta o total das dívidas dividido pela renda no período de 12 meses e incorpora os dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar (PNAD) contínua e da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), ambas do IBGE.