Economia

Governo negocia com chineses obra parada da Abengoa

A gigante chinesa State Grid negocia com o governo a possibilidade de assumir a construção de uma subestação de energia da Abengoa, no Pará, para evitar que a paralisação de obras da companhia espanhola atrapalhe o cronograma de sua linha de transmissão, projeto de 2.092 quilômetros que vai escoar a energia da hidrelétrica de Belo Monte. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, a proposta partiu do próprio governo, que vê nesta alternativa uma forma de minimizar os estragos que a crise financeira da Abengoa tem espalhado no setor elétrico.

A ideia é que a concessionária Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE), liderada pela chinesa State Grid, em parceria com Furnas e Eletronorte, faça a obra que os espanhóis abandonaram. O assunto está sendo discutido pela diretoria da BMTE e deve ter uma definição nos próximos dias.

A preocupação do governo é grande, porque a subestação que a Abengoa já deveria ter concluído é parte crucial para levar a energia de Belo Monte para a região Sudeste do País. Sem essa estrutura paralela, a linha de mais de 2 mil quilômetros que os chineses começaram a construir no fim do ano passado não poderá entrar em operação. Para a BMTE, porém, isso não é problema, já que não se trata de uma obra que estava prevista em seu contrato. Com ou sem ela, portanto, eles serão remunerados pelo projeto que entregarem.

O assunto foi tema de uma reunião realizada no início de fevereiro na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Durante o encontro com diretores e técnicos da agência, a BMTE declarou que a Abengoa se negou a executar o remanejamento de uma estrutura de transmissão próxima de Altamira (PA), na região onde a usina está sendo construída. A concessionária também alertou que é “necessário resolver problema ATE XXI (terreno e barramento)”, nome dado à concessionária liderada pela Abengoa.

Por contrato, a linha principal de Belo Monte executada pelos chineses tem de estar plenamente operacional em fevereiro de 2018. A Abengoa, que construía uma segunda linha de menor porte para levar a energia da hidrelétrica à região Nordeste, já tinha que ter concluído seu projeto. O tempo médio estimado para concluir a subestação é de um ano de trabalho, com investimentos de aproximadamente R$ 130 milhões. A estrutura de Altamira, no entanto, ainda não passa de um terreno na fase de terraplenagem.

Risco

Paralelamente ao plano de assumir a obra abandonada pela Abengoa, o que efetivamente preocupa os chineses é a necessidade de ter de alterar o traçado originalmente previsto para a sua linha de transmissão, rede que tem origem na estação conversora Xingu, em Altamira, e segue até a estação de Estreito, em Minas Gerais. Depois de passar um pente-fino no caminho previsto para receber a instalação de 3.788 torres de alta tensão, o Ibama exigiu a alteração de rota em cerca de 50 locais, por conta de impacto ao meio ambiente.

Após discussões com a área técnica da BMTE, a licença de instalação da obra dada pelo Ibama reduziu essas mudanças para 22 áreas. Internamente, porém, a concessionária avalia que, caso essas realocações tenham que ser feitas, o cronograma das obras poderá ser comprometido em até um ano, além de elevar o custo do projeto e resultar na necessidade de reequilíbrio financeiro.

Durante encontro na Aneel, a BMTE informou que “preparou contestação sobre esses pontos a ser submetido ao Ibama”. Segundo os chineses, “mesmo com essas dificuldades”, o prazo de conclusão do projeto em 12 de fevereiro de 2018 está mantido.

Fora da concessionária BMTE, a State Grid avalia a possibilidade de adquirir os demais ativos que a Abegoa possui na linha de transmissão de Belo Monte. A canadense Brookfield também está no páreo. As empresas não comentam o assunto. Nas últimas semanas, o governo tem quebrado a cabeça para encontrar a melhor alternativa financeira e jurídica que retire os espanhóis do negócio e libere as obras. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Posso ajudar?