Economia

Cenário ainda é de deterioração do mercado de trabalho, dizem professores

Apesar do leve alívio no saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em agosto ante julho, o cenário ainda é de deterioração do mercado de trabalho, que deve fechar no campo negativo em cerca de 1,5 milhão neste e no próximo ano, devendo voltar a esboçar alguma recuperação apenas em 2017. A avaliação foi feita nesta sexta-feira, 25, pelo professor e pesquisador Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Em agosto, a economia fechou 86.543 postos de trabalho com carteira assinada, após o corte de 157,9 mil vagas em julho. O número negativo veio menos intenso que o esperado pelo Ibre/FGV, de destruição de cerca de 100 mil empregos formais. “Teve algum alívio, mas para a época do ano é totalmente atípico ocorrer demissão”, afirmou.

Dentro do Caged, o setor de serviços gerou quase 5 mil vagas formais em agosto, após fechar 58.010 postos. Para Moura, o resultado sugere alguma “estabilidade” e pode sinalizar que o setor tenha começado a contratar para o fim de ano. “Pode ter alguma contratação, mas, no agregado, segue negativo. A economia está fraca”, disse.

A tendência daqui para frente, disse o economista do Ibre/FGV, é que o saldo do Caged fique menos negativo, na faixa de 78 mil ante cerca de 86 mil em agosto, diante da expectativa das contratações temporárias de fim de ano. No entanto, Moura acredita que a recessão econômica deve inibir o número de contratados e o volume ser inferior a outros anos. “Setembro pode começar a ter um pouco mais de contração. Não espero nada muito considerável, nada muito forte nos próximos meses. No agregado, o Caged ainda deve ficar no campo negativo”, avaliou.

Um resultado do Caged no campo positivo somente em agosto de 2016, quando o pesquisador disse estimar a geração entre 8 mil e 15 mil empregos formais, de 12 mil em outubro e de 32 mil em novembro do ano que vem. “Essa leve melhora não sugere melhora, recuperação”, ponderou. Na visão do professor e pesquisador do Ibre/FGV, o mercado de trabalho só deve começar a esboçar retomada em 2017. “Melhorando só lá para meados de 2017, com expectativa de geração de emprego”, disse.

Incerteza econômica

O professor doutor da Universidade de São Paulo e pesquisador da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace/USP) Luciano Nakabashi avalia que o saldo negativo de empregos em agosto “reflete a incerteza econômica e a instabilidade política no País”. O cenário para os próximos meses segue ruim, já que o ajuste fiscal, na avaliação de Nakabashi, ainda não começou.

“Estão falando em ajuste que cria o cenário ruim e, na verdade, não houve ajuste fiscal ainda, porque o governo segue gastando mais que no ano passado e a dívida bruta não para de crescer”. Nakabashi lembra que agosto tradicionalmente marca o início de um trimestre, até outubro, de saldos positivos mensais no emprego apontados pelo Caged, o que não acontece em 2015. “Tirando agropecuária, cuja colheita em algumas lavouras começa diminuir e são comuns os saldos negativos, outros setores sempre têm meses de criação de empregos”, disse.

Até mesmo a criação de 4.965 vagas no setor de serviços em agosto, o único positivo entre todos os avaliados pelo Caged, é considerada baixa pelo professor da USP. Ele lembra que nos últimos anos o setor sempre foi o que mais criou vagas este mês, com picos de quase 100 mil de saldo positivo em 2011 e uma média próxima a 70 mil vagas criadas nos dois últimos anos. “A criação de pouco menos de 5 mil vagas é muito pequena em relação à média”, concluiu.

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