O grupo Votorantim, conglomerado da família Ermírio de Moraes que atua nas áreas de cimento, metais, mineração e energia, entre outras, registrou lucro de R$ 382 milhões em 2015, um recuo de 77% em relação ao ano anterior. A queda na demanda brasileira por cimento, aço e alumínio, que levou a companhia a desativar temporariamente algumas de suas atividades, contribuiu para o desempenho, que só não foi pior em razão dos resultados favoráveis nas unidades fora do País.
Do total de R$ 31,5 bilhões obtidos em receita líquida, valor anual recorde, R$ 15 bilhões vieram das filiais espalhadas por 15 países. Também ajudaram no resultado positivo o recebimento de dividendos da Fibria (fabricante de celulose da qual a Votorantim tem 29,4% de participação) e da venda de imóveis rurais no interior de São Paulo.
O diretor-presidente da Votorantim, João Miranda, afirma que a diversificação dos negócios e o conservadorismo na gestão financeira ajudam a enfrentar o período de crise econômica. “O ambiente volátil, não só no Brasil, requer cautelas, mas a Votorantim fará cem anos em 2018 e já passou por montanhas russas de todo tipo”, diz. A situação atual, acrescenta ele, “incomoda, mas não assusta, e o que temos de fazer é buscar sermos mais eficientes e produtivos”.
Miranda ressalta que a queda no lucro se deve, também, à reversão em 2015 de impostos diferidos relacionados à operação de níquel e a um ganho extraordinário em 2014 com a venda de energia excedente. O Ebitda (indicador de geração de caixa) atingiu R$ 7 bilhões, recuo de 2% em relação a 2014.
Para Pedro Galdi, da Galdi Investimentos, as áreas de cimento e siderurgia, em especial, passam por período de paralisação principalmente por causa do congelamento de projetos diante da operação Lava Jato. “A maioria das empresas sofre porque a economia está parada.” Muitos grupos, diz ele, aguardam o que vai ocorrer no campo político para tomar decisões.
Venda de ativos
O presidente da Votorantim espera um 2016 difícil, mas diz que o grupo deve investir mais do que os R$ 3,3 bilhões do ano passado, que já foram 32% superiores aos do exercício anterior. Metade do valor será utilizada em manutenção e metade em expansão. Miranda afirma ainda que não há planos, no momento, de entrar em novos negócios nem de aquisições ou venda de ativos.
Fontes do mercado, contudo, insistem que há movimentos por parte da empresa para concentrar investimentos em áreas prioritárias. Ao longo dos próximos anos, a intenção seria se desfazer de negócios como a Citrosuco – produtora de suco de laranja que tem 50% nas mãos da Votorantim – e do Banco Votorantim. Também foi cogitada a venda da participação na Fibria, opção que perdeu força pelo bom resultado da empresa, que gerou receita líquida recorde de R$ 10 bilhões em 2015.
“Rumores de venda de qualquer ativo não têm respaldo factual. Não temos ativos em negociação hoje”, afirma Miranda. Segundo ele, o grupo tem índice de alavancagem entre dívida e geração de caixa de 2,78 vezes, disciplina operacional, todas as dívidas estão pagas até 2018 e há mais de R$ 10 bilhões em caixa. “Isso nos coloca em situação financeira privilegiada e não deveríamos dispor de ativos por nenhuma razão se não fosse interesse de fazê-lo”, diz. “Não devemos ser confundidos com quem está sendo forçado a se desfazer de ativos.”
Apesar das perspectivas para 2016, a Votorantim não tem prazo para retomar as operações de níquel em Niquelândia (GO) e no bairro de São Miguel Paulista (São Paulo), suspensas em janeiro, nem da divisão de cimentos de Ribeirão Grande (SP). Na aciaria da usina de Barra Mansa (RJ), funcionários que estão em lay-off retornam nas próximas semanas, mas ainda não há data definida para a retomada da produção. “Vamos retomar quando o mercado exigir”, informa Miranda. “Uma hora a economia vai voltar, pois há grande carência de moradias e obras de infraestrutura.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.