A demanda mais fraca já contribui para limitar o aumento dos preços ao consumidor, segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados nesta sexta-feira, 8, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dois itens que mostram bem o arrefecimento da demanda são as passagens aéreas, cujas tarifas recuaram 10,85% em março, e a refeição fora de casa, que subiu 0,55% no mês, apesar da alta de 13,27% acumulada pelo grupo Alimentação e bebidas nos últimos 12 meses.
“No mês de março, já se mostra o impacto da demanda, do desemprego, da falta de dinheiro mesmo da população, no sentido de cumprir a oferta dos produtos. No caso da alimentação fora de casa, os estabelecimentos já se mostraram reduzindo suas taxas de crescimento de preços. Esse é um exemplo clássico de redução de demanda com reflexo sobre o preço”, apontou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
Quanto às passagens aéreas, os preços caem por causa do aumento da ociosidade das aeronaves, avaliou a pesquisadora. Eulina explica que o País viveu no ano passado uma inflação de custos, devido ao aumento de itens administrados, como a energia elétrica, transportes e combustíveis.
“Tudo isso gera uma pressão de custos, que vai ser mais ou menos repassada, a depender da demanda. E se a demanda está menos aquecida como está agora, é mais difícil um comerciante ou prestador de serviços repassar seus custos represados”, justificou a coordenadora do IBGE.
Apesar da demanda mais fraca, o IBGE lembra que alguns itens permanecem subindo por conta de aumento de impostos e por força de contratos indexados, que repassam automaticamente aos preços a inflação acumulada em períodos anteriores. “Alguns aumentos são insistentes porque são indexados, como o plano de saúde. Então para eles é garantido que você tenha aumento todo mês do grupo que está fazendo aniversário de contrato”, concluiu.
Freio concentrado
A desaceleração no IPCA na passagem de fevereiro para março teve contribuição muito forte de apenas dois itens, energia elétrica e passagens aéreas, avaliou Eulina.
As passagens aéreas tiveram novo recuo na tarifa em março, de -10,85%, o segundo maior impacto negativo sobre a taxa de 0,43% do IPCA do mês, o equivalente a -0,04 ponto porcentual. O item só ficou atrás da energia elétrica, que contribuiu com -0,13 ponto porcentual após a queda de 3,41% na tarifa.
“Os recuos foram muito concentrados na energia elétrica e passagens aéreas. Esses dois itens tiveram uma contribuição muito grande no sentido de conter a taxa do IPCA. E houve alguns itens que ficaram para trás, como os reajustes de Educação, cuja concentração ficou em fevereiro”, disse Eulina. “Ainda não é movimento generalizado de desaceleração. Ainda tem pressões para cima”, completou.
Outros dois itens que contribuíram para desacelerar o IPCA foram a taxa de água e esgoto (-0,43%) e o gás de cozinha (-0,42%).
A queda de 0,43% na taxa de água e esgoto em março foi puxada pela região metropolitana de São Paulo, onde os preços recuaram 2,99% diante da aplicação do fator de 0,78 à média de consumo para fins do cálculo do bônus tarifário, concedido através do Programa de Incentivo à Redução do Consumo de Água. A aplicação do fator de 0,78% foi autorizada pela deliberação Arsep nº 615, de 23 de dezembro de 2015.
Por outro lado, na região metropolitana de Recife, a taxa de água e esgoto aumentou 3,92%, devido ao reajuste de 10,69% em 20 de março. Em Porto Alegre, a variação de 0,46% refere-se a um resíduo decorrente do reajuste de 10,54% desde o dia primeiro de fevereiro.
Outros recuos de preços importantes no mês de março foram na tarifa de telefone celular (-2,71%), telefone fixo (-2,89%) e excursão (-2,49%). No caso da telefonia celular, houve redução das tarifas de uma operadora específica, enquanto que o telefone fixo teve diminuição de 22% nas tarifas das ligações de fixo para móvel.
O grupo Educação passou de alta de 5,90% em fevereiro para 0,63% em março, deixando para trás a concentração de reajustes ocorridos nas mensalidades escolares deste ano letivo.
Monitorados
Os bens e serviços monitorados apresentaram queda de preços de 0,36% em março, segundo os dados do IPCA. O resultado foi o mais baixo desde fevereiro de 2013, quando ficou em 1,11%, puxado, à época, pelo recuo de 15,17% na tarifa de energia elétrica.
A taxa acumulada pela inflação de monitorados em 12 meses saiu de 14,95% em fevereiro para 10,80% em março.