A tragédia provocada pelo rompimento de duas barragens de rejeitos da Samarco, sociedade entre a Vale (50%) e a anglo-australiana BHP Billiton (50%), fez as ações da mineradora brasileira desabarem ontem (6). Apesar da reação negativa do mercado, o impacto financeiro para a Vale tende a ser limitado.
O principal efeito negativo pode vir do lado da imagem, diante das proporções do acidente, que deixou a região de Mariana, em Minas Gerais, debaixo de lama e vários desaparecidos. O episódio pode elevar o controle dos órgãos ambientais em relação às barragens na mineração.
As ações ordinárias (ON) da Vale encerraram a sexta-feira com queda de 7,55% na Bolsa de São Paulo, enquanto as PNA caíram 5,70%, arrastando o Ibovespa para uma perda de 2,35%. Os papéis da BHP também fecharam em baixa na Bolsa de Sidney. “É a pior crise da história da companhia”, reconheceu o diretor-presidente da Samarco, Ricardo Vescovi, em entrevista coletiva ontem, em Mariana.
No início da noite, a agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P) colocou os ratings da Samarco Mineração em observação negativa, alegando que ainda não é possível “avaliar a extensão total dos estragos e o impacto em potencial nas operações da empresa”. A S&P já havia retirado o selo de grau de investimento da empresa na esteira do rebaixamento da nota soberana do Brasil.
Fundada em 1977, a Samarco é a segunda maior exportadora global de pelotas (pequenas bolinhas de minério de ferro usadas na produção de aço), atrás apenas da própria Vale. Com operações em Minas e no Espírito Santo, tem capacidade para produzir 30,5 milhões de toneladas anuais de pelotas. A Vale divide o controle da empresa com a BHP, recebendo dividendos e parte de sua produção.
De janeiro a setembro, a produção da Samarco atribuível à sócia brasileira foi de 10,7 milhões de toneladas. No mesmo período, a Vale produziu 35,8 milhões de toneladas de pelotas por conta própria. A relevância da Samarco no mercado de pelotas fará com que o acidente tenha efeito significativo no mercado global de minério. Segundo relatório do UBS, a redução da oferta por um eventual comprometimento de sua produção pode favorecer a cotação das pelotas. A expectativa de analistas é de um possível freio na queda dos preços do insumo.
Curto prazo
Por outro lado, o Itaú BBA levanta que no curto prazo a Samarco pode ser obrigada a comprar o produto de terceiros, a um custo mais alto para suprir a demanda. Segundo analistas do banco, a reconstrução da barragem exigirá mais investimentos e a mineradora deverá oferecer uma compensação pelos estragos causados. A expectativa nesse caso é que esses efeitos sejam mitigados pelo plano de seguro da Samarco.
O economista e ex-diretor de Relações com Investidores da Vale Roberto Castello Branco diz que a Vale não deve sofrer com o episódio. Segundo ele, a Samarco é sólida e financeiramente independente. “A Samarco não vai precisar de aporte dos sócios para enfrentar essa situação.” Em 2014, a fabricante de pelotas teve uma receita líquida de R$ 7,5 bilhões, lucrou R$ 2,8 bilhões e pagou R$ 1,8 bilhão em dividendos aos seus acionistas. Segundo o Itaú BBA, os dividendos da Samarco representaram 3% da geração de caixa da Vale em 2014.
Risco de imagem
A despeito das dúvidas sobre o risco financeiro, o acidente afeta fortemente a imagem da mineração. Segundo um executivo do setor, a obtenção de novas licenças ambientais para construção de barragens no País será uma missão ainda mais difícil após a tragédia em Mariana. A expectativa é que os órgãos ambientais reforcem a fiscalização das barragens em funcionamento e imponha mais exigências para liberar a construção de novas.
A tragédia pode frear as atividades de mineração no Brasil. Isso porque, o modelo nacional necessita a construção de barragens para permitir que o minério seja concentrado e, com isso, ganhe um maior teor de ferro, o que o torna mais valioso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.