A sede da incorporadora Rossi, no bairro do Morumbi em São Paulo, é um retrato do que a empresa está passando. Dois dos quatro andares que eram ocupados por funcionários da companhia foram devolvidos. O novo espaço é suficiente para abrigar a equipe de cerca de 200 pessoas, depois dos cortes que atingiram 40% dos funcionários nos últimos meses. Assim como ocorreu com a sede, a ordem, em toda a operação da Rossi, é enxugar custos e diminuir de tamanho.
“Queremos que ela volte a ter a rentabilidade que tinha lá atrás, nem que para isso tenhamos de fazer apenas um ou dois lançamentos por ano”, diz José Paim, eleito no mês passado presidente do conselho de administração da incorporadora, no lugar de João Rossi, agora vice-presidente.
A incorporadora, que, em 2011, no auge, faturou R$ 3,1 bilhões e lançou R$ 4,2 bilhões em novos empreendimentos, passou o ano de 2015 em branco, sem colocar no mercado nenhuma unidade nova. Assim como outras companhias do setor, a Rossi tem um nível alto de estoques para desovar (cerca de R$ 2,1 bilhões), reflexo da devolução de unidades por falta de capacidade de pagamento dos clientes.
Acelerar a venda desses apartamentos é uma das estratégias da empresa para reduzir a dívida da holding, que em junho estava em cerca de R$ 1,3 bilhão. Na terça-feira, 10, a empresa divulga os resultados do terceiro trimestre e a expectativa do mercado é que ela apresente um endividamento menor, já que vem gerando caixa há sete trimestres consecutivos.
Ainda assim, sua situação está longe de ser confortável. A empresa tenta chegar a um acordo com os bancos para congelar o prazo das dívidas que vencem no curto prazo e acertar uma nova taxa de juros. “Esse é um processo complicado e demorado, que só deve ser concluído no ano que vem”, diz o analista de um banco estrangeiro. “As instituições financeiras não têm interesse em pedir a falência da Rossi, mas vão cobrar medidas drásticas na operação.”
Hoje, 70% do portfólio da Rossi está perdendo dinheiro, em praças que já não são mais estratégicas para a companhia, como as do Nordeste. Até o ano que vem, dez filiais serão fechadas. A empresa já enxugou seu raio de atuação de 62 para 13 cidades.
No momento, a Rossi mantém 42 canteiros de obras, com 12,3 mil unidades em produção. O objetivo dos responsáveis pela reestruturação é ficar em apenas cinco regiões metropolitanas: de São Paulo, Campinas e Porto Alegre, além de duas que ainda não foram definidas.
Em paralelo, os oito executivos da RK Partners e da Max Cap que ocuparam a sede da Rossi desde agosto tentam vender ativos para engordar o caixa. O jornal O Estado de S. Paulo apurou que, se conseguisse concretizar essas vendas, a incorporadora poderia colocar quase R$ 4,5 bilhões em caixa.
Além de unidades em estoque e terrenos, uma das apostas para venda é a empresa de loteamentos Entre Verdes, avaliada em R$ 400 milhões. Segundo fontes de mercado, há cinco pretendentes interessados na empresa, que está para a Rossi como a Alphaville estava para a Gafisa.
Gestores
Como parte da reestruturação, a Rossi também trocou recentemente seus principais executivos. O presidente Leonardo Diniz foi afastado e substituído por dois executivos interinos, Rodrigo Moraes Martins e Renato Gamba Rocha Diniz.
O diretor financeiro, Fernando Mattos Cunha, veio do grupo Synergy, dono da companhia aérea Avianca, depois de três anos na consultoria Galeazzi & Associados, especializada em reestruturação de negócios. “É um diretor financeiro de empresa pobre, acostumado com dificuldade”, diz Paim.
São os novos tempos da Rossi, bem diferentes dos anos dourados, em que ele conseguiu fazer a empresa brilhar. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.