Favorecida pela desvalorização do real, a seguradora francesa Axa mantém apetite para aquisições no Brasil e vê no sistema de saúde local uma oportunidade futura de negócio. Nos últimos cinco anos, a companhia, que soma 1,3 trilhão em ativos ao redor do globo, comprou 20 empresas no mundo. Dessas, apenas uma foi no Brasil, a primeira desde que se restabeleceu no País. Após algumas tentativas sem sucesso, o alvo foi a carteira de grandes riscos da SulAmérica por R$ 135 milhões, cuja compra deve ser concluída ainda este ano.
A despeito da crise, Philippe Jouvelot, presidente da Axa no País, diz que o momento é “mais fácil” para começar uma operação no Brasil diante do câmbio, que é favorável, e o retorno, beneficiado pelos juros altos. Depois de dois anos e meio de estudos, a francesa emitiu a primeira apólice em janeiro.
“Com o câmbio favorável, tudo que você compra sai mais barato. O dinheiro investido dá mais lucro. Colocamos meio bilhão de reais (no País) e o retorno é de 14,25% no lugar de 8% antigamente. Para uma seguradora que gosta de entrar no longo prazo, não tem melhor momento”, avalia Jouvelot, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
O executivo admite, porém, que as incertezas atuais remam contra o possível ingresso da Axa em saúde. Esse não é ainda, segundo ele, um plano da francesa, mas um sonho pessoal que nasceu da oportunidade de ofertar uma opção complementar de saúde no Brasil com coberturas “essenciais” para o cidadão e não “de luxo”.
Expertise não falta
No mundo, o negócio de saúde da Axa é de 11 bilhões de euros. Neste momento, a seguradora começa a operar o segmento no Egito. Para que o mesmo ocorra no Brasil, conforme Jouvelot, estabilidade e regulamentação, que hoje limita os reajustes dos planos individuais, são palavras-chave já que tal passo consumiria “bilhões” de reais em investimento.
“A questão não é o dinheiro, mas se vale a pena investir no Brasil para desenvolver o mercado de saúde ou fazer outra coisa. É uma arbitragem e tem a ver com a estabilidade do investimento no longo prazo. O que investidores estrangeiros gostam é de visibilidade de longo prazo. O momento não é o melhor. Há muita incerteza e a regulamentação de saúde teria de ser provavelmente adaptada para que o mercado atendesse mais pessoas”, explica ele.
Enquanto não encontra mais ativos de seu interesse no Brasil, a Axa toca seu projeto orgânico, aproveitando a baixa penetração do seguro a despeito da crise que assola o País. No mundo, é conhecida por ter um perfil comprador. Possui, inclusive, uma equipe própria de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), estrutura mais comum aos bancos de investimento. Essa postura permitiu à Axa ter expertise na análise de valuation e o preço do ativo que têm de ser, segundo Jouvelot, mais atrativo que crescer de forma orgânica. Essa seria, conforme fontes, a razão que fez a francesa desistir da carteira de seguro de vida em grupo do Itaú.
Questionado, o francês, que tem 30 anos de Axa, prefere não comentar transações em andamento. Fontes dizem que AIG e Pan Seguros, de BTG e Caixa, estariam no páreo final da disputa. O executivo também não revela se o grupo mantém outras conversas. Reforça, entretanto, que “dinheiro não é o problema”. Uma prova de fogo foi dada pela Axa em meados do ano passado quando quase levou a operação de grandes riscos do Itaú, mas foi desbancada pela americana Ace que ofereceu alguns bilhões a mais.
Antes disso, também tentou ficar com a fatia do holandês ING na SulAmérica. Restou, porém, a carteira de grandes riscos. Apesar de menor do que a do Itaú, Jouvelot explica que o ativo tem um valor importante por ser o segundo maior na área de cascos marítimos, área com potencial no País. De quebra, a Axa ainda reforçou a parceria com a seguradora controlada pela família Larragoiti, também da França.
Questionado sobre se a SulAmérica seria um possível alvo de aquisição, o executivo afirma que vê o relacionamento perdurar no longo prazo. “Somos bem próximos, mas não temos operação de M&A com a SulAmérica. Temos uma parceria de dez anos e que deve durar mais dez anos a frente. Como vai terminar, não sei. Pode ser que termine com casamento”, admite o executivo, acrescentando que “para comprar, é preciso que alguém queira vender”. Sobre a SulAmérica ter tal ambição, ele afirma que não pode comentar, mas diz que há outras famílias além da Larragoiti que podem se desfazer de participações no mercado de seguros no Brasil, principalmente, com as novas regras de solvência que tendem a exigir mais capital das companhias.
A combinação de uma estratégia orgânica e via aquisições, segundo o presidente da Axa, deve render quase R$ 400 milhões em prêmios à companhia em 2015. A meta é de ao menos R$ 360 milhões. Embora a cifra não se compare à uma “Bradesco Seguros”, o presidente da Axa não esconde a ambição da seguradora no País. Segundo ele, o grupo não é o número dez em lugar algum, mas sempre está acostumado com a segunda e quarta colocações.
No Brasil, de acordo com ele, não será diferente. Embora tenha feito uma estrutura do zero, que conta com uma seguradora e uma resseguradora local, a Axa já teve presença no Brasil no passado. Deixou o País em 2003 quando vendeu sua operação, filial fruto da aquisição da Union des Assurances De Paris (UAP), para a Porto Seguro que deu origem à marca Azul.