O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deu mais um passo no seu processo de ajuste a uma realidade menor. Mês passado, a instituição de fomento liberou R$ 11 bilhões para empréstimos, 34,4% abaixo do valor de outubro de 2014, sem considerar a inflação do período. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, foram R$ 105,5 bilhões, 28% abaixo de igual período do ano passado.
Embora o BNDES ainda não tenha definido uma projeção para os desembolsos neste ano, o superintendente da Área de Planejamento, Cláudio Leal, estima que a queda nominal, sem descontar a inflação, será de pelo menos 10% neste ano. Isso significa liberar R$ 170 bilhões, contra R$ 187,8 bilhões em 2014.
Um dos fatores citado por Leal para o banco ainda não ter uma estimativa firme do quanto liberará no ano é a recente reabertura do prazo para as empresas entrarem com pedidos de empréstimo do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI).
Há um mês, o governo cortou em R$ 30 bilhões o limite de valores que o BNDES pode emprestar via PSI e deu até 30 de outubro para as empresas darem entrada nos pedidos de crédito. Semana passada, após reclamação de empresários, o governo voltou atrás e estendeu o prazo até o próximo dia 30.
Para Leal, a reabertura da “janela” para pedidos poderá levar a um aumento na contratação de empréstimos no fim do ano. Como as operações para bens de capital do PSI, em geral, são automáticas, os recursos podem ser liberados em seguida. “Embora faltem só 40 dias para o ano terminar, não temos uma projeção de desembolsos, porque as operações automáticas são muita coisa”, disse Leal.
A queda tão acentuada nos desembolsos do BNDES deve-se a dois fatores. Na virada de 2014 para 2015, com a necessidade de ajustar as contas do governo, o BNDES mudou sua política de juros. As condições de crédito encareceram e uma dose maior de subsídios ficou apenas nos empréstimos a setores prioritários, como infraestrutura e inovação. O objetivo era reduzir a necessidade de aportes do Tesouro no BNDES.
O segundo motivo para a queda nos desembolsos é que, da virada do ano para cá, o cenário econômico piorou e, agora, é consenso entre economistas que a retração da economia neste ano pode ficar em torno de 3,0%. Com os investimentos despencando, caiu a demanda por crédito do BNDES, independentemente dos juros mais altos.
Leal informou que, ao traçar seu planejamento para o futuro neste fim de ano, o banco de fomento vai estudar “eventuais calibragens” na política de juros. O executivo desfez a impressão de que, com a demanda fraca, está sobrando dinheiro no BNDES. “O cenário era de estresse forte e a mudança na política buscou recolocar o banco em equilíbrio. É completamente diferente de dizer que está sobrando dinheiro”, afirmou Leal.