O presidente do Conselho de Administração da JBS, Joesley Batista, destacou nesta terça-feira, 27, que mudanças no mercado do câmbio têm levado a companhia alimentícia a focar mais no Brasil, após anos de expansão no exterior, durante sua fala no Brazil Summit, organizado pela revista The Economist. O executivo afirmou que a alta da moeda brasileira na última década favoreceu investimentos e aquisições no exterior, onde a JBS comprou empresas sobretudo nos Estados Unidos e na Austrália. Agora, no entanto, a companhia está se equilibrando e voltando sua atenção para as oportunidades no cenário doméstico.
“Acreditamos que todo esse movimento (cambial) torna o Brasil cada vez mais interessante. Isso já está acontecendo. Se você olhar nossos investimentos nos últimos três anos, perceberá que o foco já está mais balanceado”, disse.
Joesley Batista informou que a JBS também está comprando “uma série de empresas regionais” no País. Questionado por jornalistas sobre novas aquisições, ele informou que “não há nada definido ainda”.
Ao público da conferência, porém, Batista ressaltou que a JBS está em condições financeiras para adquirir rivais. “Estamos sempre olhando oportunidades. A empresa está com endividamento baixo e vai entrar em 2016 com capacidade para muitas aquisições”, declarou, acrescentando que espera que este ano seja “um dos melhores” para a JBS em todos os segmentos em que atua.
Crescimento
Após sua participação no evento, em entrevista a jornalistas, o presidente do Conselho de Administração da JBS fez comentários sobre as operações da alimentícia no Brasil e no exterior. No País, o executivo declarou que a companhia continua a ganhar participação, “mesmo que o mercado como um todo não esteja crescendo muito” – fato decorrente da crise macroeconômica. Batista ressalta que os ganhos de mercado se dão na Seara, rival da BRF, e na Vigor, do setor de lácteos.
O executivo também comentou que o impasse político sobre o orçamento do governo federal para 2016 não pesa sobre as decisões da companhia. “O nosso setor, ao menos, passa um pouco à parte do que chamam de imbróglio político”, afirmou.
No exterior, Batista comentou que o mercado norte-americano tem produtividade, o que garante que o país se mantenha competitivo “mesmo com o dólar se fortalecendo”. A valorização do dólar no mercado internacional tem preocupado exportadores do país, que temem menores vendas externas. Nos Estados Unidos, a JBS atua tanto no segmento de bovinos quanto de aves e suínos.
Estudo da OMS
Batista também disse que respeita o estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que liga o consumo de carne vermelha e alimentos processados à incidência de câncer em seres humanos, mas que este não é um fator de risco para a JBS. “O mundo se alimenta à base de proteínas há mais de mil anos”, ressaltou. O executivo complementou sua posição afirmando que “se de um lado se descobrem causas e efeitos, em compensação a medicina é evolutiva” e pode produzir medicamentos e técnicas para lidar com a enfermidade.
BNDES
O presidente do Conselho de Administração da JBS defendeu investimentos do BNDES na alimentícia e criticou o uso da expressão “campeãs nacionais” para se referir às estratégias do banco estatal. “Nunca fui escolhido para ser campeão. Tudo o que construímos foi por nossa competência em administrar empresas”, disse no evento em São Paulo.
O executivo encarou o espaço como uma oportunidade para esclarecer “mitos que se criam” e afirmou que o BNDES investiu cerca de R$ 8 bilhões na companhia após a sua abertura de capital. “Que hoje valem R$ 16 bilhões”, garantiu, indicando os rendimentos do banco com a operação.
Batista também citou que o BNDES tem participação relevante, de mais de 20% na empresa, mas relativizou a visão de que o banco teve um “papel fundamental” na expansão internacional do frigorífico. “O BNDES teve um papel fundamental assim como o mercado de capitais, os nossos bondholders (credores) também tiveram”, salientou.
Doações de campanha
O executivo da JBS afirmou que respeita a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de barrar as doações de campanhas eleitorais, embora reconheça que a JBS foi a maior financiadora em 2014. No ano passado, a empresa apoiou políticos e partidos com mais de R$ 300 milhões. “Respeitamos muito as regras dos países em que operamos. Desde que as regras sejam claras e valham para todos, encaramos como natural (a proibição).”
Batista disse, no entanto, que está preocupado, pois ainda não foi apresentada solução para o financiamento das campanhas. “Estão criando uma restrição, mas não deram ainda uma solução. É o Estado que vai patrocinar?”, questionou.
Ele relativizou o montante das doações de campanha do ano passado, afirmando que é preciso colocar o valor em perspectiva “no relativo ao tamanho da empresa, ao porcentual do faturamento e ao que representamos para cada Estado”. O executivo citou que a JBS tem mais de cem fábricas no País. “Só em Mato Grosso temos 17 fábricas no segmento de bovinos”, exemplificou.
Sobre a escolha dos partidos para doar, Batista diz que a empresa faz “doações iguais”. “Amanhã não queremos ser acusados de ter ajudado mais um ou outro, de ter usado poder econômico para influenciar eleições”, justificou.