Economia

Política rouba a cena em dia de Copom e juros disparam

Mais uma vez o imponderável se abateu sobre os mercados financeiros brasileiros nesta quarta-feira, 25. Em dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a prisão inédita do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT), e de um dos maiores banqueiros do País, André Esteves, do BTG Pactual, roubou a cena e guiou os negócios. Os juros futuros dispararam, em sintonia com a alta firme do dólar ante o real.

Ao término da sessão regular na BM&FBovespa, o contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2016 (744.725 unidades negociadas) projetava taxa de 14,164%, ante 14,166% no ajuste de ontem. O DI para janeiro de 2017 (215.445 contratos) indicava 15,27%, de 15,19% na véspera. O DI para janeiro de 2018 (79.385 contratos) mostrava 15,60%, de 15,41%. E o DI para janeiro de 2021 (93.275 contratos) apontava 15,51%, de 15,24%. O dólar à vista no balcão subia 1,40% por volta das 16h30, a R$ 3,7538.

O medo dos investidores é de que o novo escândalo paralise a atuação do Congresso, onde o governo vinha conseguindo algumas vitórias nas últimas semanas. Nesta tarde, a senadora Rose de Freitas (PMDB), presidente da Comissão Mista de Orçamento, já disse que as prisões causaram “perplexidade” e que pode haver atraso na apreciação do Orçamento. A sessão conjunta que estava marcada para hoje para alterar a meta fiscal de 2015 foi adiada para 3 de dezembro.

Operadores do mercado de juros contam ainda que a prisão de Esteves foi uma surpresa, já que o banqueiro é tido como um “ídolo” por muitos executivos da indústria financeira. Há ainda a preocupação de que o escândalo afete as operações do BTG, apesar de o Banco Central ter vindo a público dizer que as contas do banco são sólidas.

O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a Polícia Federal a deflagrar a operação nesta quarta-feira que tinha Delcídio e Esteves como alvos. Eles são acusados de tentar atrapalhar as investigações no âmbito da Lava Jato, que tem como pivô os escândalos de corrupção na Petrobras.

Neste cenário, a decisão do Copom na noite de hoje ficou em segundo plano. A análise de que o BC deve manter a Selic estável em 14,25% ao ano é praticamente unânime, mas alguns participantes do mercado esperam mudanças no comunicado, tento em vista a desancoragem das expectativas de inflação. Outros, porém, acreditam que a forte deterioração nas projeções de atividade econômica será suficiente para fazer a inflação baixar, permitindo que os juros fiquem estáveis ou até mesmo recuem em 2016.

No meio de toda a confusão, uma notícia positiva para o governo passou desapercebida. O leilão realizado hoje para a relicitação de 29 usinas foi bem-sucedido e arrecadou R$ 17 bilhões em bônus de outorga, dos quais R$ 11,05 bilhões devem ser pagos em dezembro, o que ajudará a reduzir o rombo nas contas públicas este ano.

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