Imersa no que considera a maior crise de sua história, a indústria siderúrgica nacional deverá demitir mais 7.407 pessoas nos próximos seis meses, somando 29 mil dispensas desde janeiro de 2014. O retrato é reflexo da fraca atividade econômica, que já levou ao fechamento de dezenas de unidades produtivas no setor.
O Instituto Aço Brasil, que representa as siderúrgicas, não acredita em uma recuperação em 2016. A previsão é de queda de 4% nas vendas domésticas de aço e de 5,1% no consumo aparente no ano que vem, em cima de uma estatística já desfavorável em 2015.
“Vivemos a maior crise de nossa história. O ano de 2016 está aí. Não há nada que sinalize recuperação do mercado interno. Será a repetição de 2015”, disse o presidente executivo do Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, após divulgar as perspectivas para o setor na quinta-feira, 26, no Rio.
O diagnóstico foi apresentado na quarta-feira, 25, em Brasília à presidente Dilma Rousseff e a um grupo de ministros, entre os quais Joaquim Levy, da Fazenda. O setor pede que o governo tome medidas emergenciais, sendo a principal delas o aumento da alíquota do imposto de importação de aço. O alvo é barrar a entrada do aço vindo da China, acusada de práticas de comércio consideradas desleais.
Na quinta, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, confirmou que o governo deve apresentar em até 15 dias uma definição sobre a sobretaxa.
O levantamento do Aço Brasil revela que hoje 47 unidades produtivas de aço – 2 altos-fornos, 4 aciarias, 8 laminadores, 4 mineradoras, entre outros equipamentos – estão desativadas ou paralisadas no País, o que significou 21.786 demissões e 2.266 contratos de trabalho suspensos desde 2014.
A estimativa do instituto, que reúne grupos como Usiminas, Gerdau, ArcelorMittal e CSN, é que em seis meses o total de equipamentos desativados salte para 71.
Efeito dominó
As siderúrgicas vêm sendo atingidas pela crise de setores consumidores como o automotivo e de construção civil. Além disso, enfrentam um cenário marcado pelo excesso de aço no mundo – em torno de 700 milhões de toneladas – e a pesada concorrência da siderurgia chinesa. De acordo com o Aço Brasil, o setor siderúrgico adiou US$ 2,2 bilhões em investimentos nos últimos anos.
A maior expressão da crise do setor foi a recente decisão da Usiminas de fechar a unidade de Cubatão, em São Paulo, a antiga Cosipa. A paralisação das atividades levará à perda de 2 mil empregos diretos e pelos menos outros 2 mil indiretos na região. A empresa já foi alvo de uma série de protestos.
“O fechamento de Cubatão criou maior sensibilidade (no governo) por significar demissões. O setor continua diante de uma grande dificuldade que precisa ser tratada no curtíssimo prazo sob pena de agravamento”, disse Lopes, admitindo que tudo leva a projeções piores para 2016.
As siderúrgicas apostam nas exportações para ganhar fôlego, mas dizem que a alta do dólar não foi suficiente para aumentar sua competitividade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.