Economia

Gravidade da crise exige ajuste fiscal de longo prazo, dizem economistas

A atual crise brasileira é tão grave que não basta o governo pretender implementar um ajuste fiscal de curto prazo com o objetivo de reorganizar as contas públicas para entregar superávits primários neste e no próximo ano. Economistas reunidos em um evento na capital paulista nesta quarta-feira, 2, apontam para a necessidade de mudanças estruturais que sinalizem soluções de longo prazo e que deem perspectivas de estabilização aos agentes da economia, de modo a retomar a confiança, os investimentos e o crescimento da economia.

Para o diretor-presidente do Insper, Marcos Lisboa, o Brasil não passa por um ajuste cíclico que será revertido em poucos meses, mas por um período de depressão da economia. “Parte do problema é o avanço do gasto publico. Não necessariamente o nível, mas o fato de que as despesas vão crescer em um ritmo mais alto que o do Produto Interno Bruto (PIB)”, afirmou, em um evento sobre o debate da política econômica promovido pelo instituto que ele dirige em parceria com o jornal Valor Econômico, em São Paulo.

Lisboa destacou que o gasto obrigatório cresceu em 2015, apesar das medidas do ajuste fiscal, que determinou cortes de investimentos e custeio, mas em menor grau que a alta dos custos da Previdência. Para ele, a atual crise terá impactos sociais muito profundos, “talvez os maiores que uma geração já viu”.

Segundo Lisboa, no entanto, é necessário enfrentar o ajuste fiscal, discutindo o propósito das politicas públicas. “É necessário pensar em como fazer a agenda de reforma necessária e proteger os grupos sociais mais vulneráveis”, disse. Na avaliação do economista, a gravidade da atual crise impõe a discussão destes temas.

Já para José Luís Oreiro, economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é preciso pensar em mecanismos de sofisticação da estrutura produtiva brasileira no médio e longo prazo. “O ajuste fiscal focado no curto prazo está errado. Deveria primeiro fazer ajustes para dar um horizonte mais amplo e perspectivas positivas para a trajetória sustentável da dívida pública”, afirmou. “Enquanto não tivermos um norte neste País, um líder que diga claramente para onde vamos e o que precisa ser feito, a crise vai durara muito tempo”, afirmou.

Oreiro considera ser pouco sensato o Banco Central elevar os juros em janeiro, mas sugeriu que uma maneira de reduzir o gasto público seria alterar a fórmula de reajuste do salário mínimo. “Apesar do aumento formidável da taxa de desemprego e do PIB caindo, o salário mínimo vai aumentar 10% em 2016. Me parece razoável aplicar apenas a metade da regra atual”, afirmou.

O ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega disse estar “otimista” com a situação da economia brasileira e avaliou que o Brasil está se preparando para uma “grande virada” a partir de 2019. “Na história recente, grandes saltos da economia ocorreram quando se conjugam três elementos: ideias, amadurecimento da sociedade e liderança”, disse, afirmando faltar, atualmente, apenas um líder para encabeçar este movimento de recuperação. “Este líder pode surgir nas eleições de 2018”, afirmou, explicando seu “otimismo” com as perspectivas para o Brasil.

Para ele, três forças vão impulsionar a retomada da economia: melhoria gigantesca da capacidade da gestão, a retomada da confiança e o consequente aumento da capacidade produtiva.

Segundo Maílson, um governo do PSDB teria as condições de fazer tais mudanças se concretizarem. Afirmando que o atual momento não é tão ruim como já houve anteriormente, o economista ponderou que, atualmente, o Brasil não passa nem por uma crise cambial nem por uma crise bancária, que teriam efeitos bem mais drásticos.

Impeachment

Tanto Lisboa como Maílson destacaram, porém, ser necessário respeitar as decisões democráticas e repudiaram a tese do impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Tem uma frase do Fernando Henrique Cardoso que gosto de repetir: impeachment é igual bomba atômica. É para você ter, mas não para você usar”, citou o ex-ministro da Fazenda.

Para ele, o Brasil atingiu um grau de maturidade que não pode gerar um retrocesso devido a uma “escolha errada”, em referência à reeleição da presidente Dilma.

Oreiro, da UFRJ, avalia que esta crise é uma oportunidade de pensar em uma reforma do sistema político. “Por isso, acredito que é necessário pensar na possibilidade de um modelo parlamentarista”, sugeriu. “Se o governo está paralisado, você derruba o gabinete e faz o necessário para garantir solução da crise política, respeitando as instituições democráticas”, afirmou.

Posso ajudar?