A queda de 11,2% na produção industrial em outubro ante igual mês de 2014 foi a 20ª seguida neste tipo de confronto, apontou nesta quinta-feira, 3, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mês a mês, a indústria vem estendendo esse período negativo, que é recorde na série iniciada em janeiro de 2002. Antes, a maior sequência era de 12 quedas, entre novembro de 2008 e outubro de 2009.
“Neste mês houve efeito calendário, já que outubro de 2015 teve dois dias úteis a menos do que igual mês do ano passado. Isso pode ter acentuado o ritmo de queda, mas não tira o fato de que já havia viés de redução na produção”, explicou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
Na leitura divulgada nesta quinta, 77,4% dos 805 produtos investigados tiveram queda na produção ante outubro de 2014, outro recorde na pesquisa e um sinal de que o comportamento negativo é generalizado, notou o gerente.
Bens duráveis
A produção de bens de consumo duráveis registrou em outubro a terceira queda consecutiva em relação ao mês imediatamente anterior. Apenas nesse período, a categoria acumula retração de 15,8%, destacou André Macedo.
“O cenário permanece adverso já há algum tempo. Todos os fatores permanecem nesse contexto, o nível mais baixo de confiança das famílias no que se refere a sua disposição de consumir, a retração da demanda doméstica com aumento da taxa de desemprego e queda na renda. Tudo isso justifica o comportamento mais negativo de bens de consumo duráveis e também de outras categorias”, explicou Macedo.
Entre setembro para outubro, as perdas observadas na produção de artigos de linha branca, linha marrom, móveis e motocicletas foram as principais influências negativas para os bens duráveis. Com isso, a produção da categoria encolheu 5,6% no período. Os automóveis, destaques de queda em outras ocasiões, mostraram avanço na passagem do mês.
Para o setor de veículos, porém, o resultado positivo de automóveis foi insuficiente para estancar as perdas. Em outubro, houve retração de 3,0% na produção ante setembro, puxada por caminhões e autopeças, destacou o gerente do IBGE.
Câmbio
A desvalorização do real ante o dólar ajudou a indústria de segmentos, como a celulose, em meses anteriores, mas é insuficiente para manter o desempenho positivo durante todo o tempo, afirmou André Macedo. Nesse contexto, a produção de celulose e papel recuou 2,3% em outubro ante setembro.
“A influência do câmbio é limitada porque é incapaz de reverter todo o cenário negativo dentro da produção industrial”, disse Macedo. “Alguns grupamentos como celulose e fumo têm viés positivo, o câmbio é importante para explicar isso. Mas mesmo dentro da atividade, isso pode não ser suficiente para manter a produção o tempo todo no positivo.”
O setor de celulose vinha tenho resultados positivos mês a mês, mas já havia tido perda de 2,0% em setembro ante agosto, resultado que se intensificou na leitura divulgada hoje. A produção de fumo, porém, seguiu com resultado positivo, com alta de 3,4% em outubro ante setembro, segundo o IBGE.
A despeito da queda na margem, Macedo destacou que o setor de celulose ainda se beneficia do aumento de exportações quando é analisado o desempenho em relação ao ano passado. Os artigos de celulose dentro dos bens intermediários tiveram avanço de 7,9% ante outubro de 2014. “Observamos incremento de exportações. A questão cambial influencia, já que o setor tem viés para o mercado externo”, disse o gerente.
Derivados de petróleo
Após um leve respiro em setembro, a produção de derivados de petróleo e biocombustíveis voltou a cair em outubro, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior, segundo o IBGE. “Isso tem relação importante com a retração da demanda doméstica”, notou André Macedo.
Segundo ele, tanto as famílias quanto as empresas têm reduzido a procura por combustíveis diante do momento de desaceleração da economia. De um lado, os consumidores se veem obrigados a readequar seus hábitos a um orçamento menor, diante da queda na renda e da alta no desemprego. De outro, as empresas também buscam reduzir custos e investir menos.
Com isso, o segmento de derivados teve recuo de 2,7% na produção em outubro, após avanço de 3,4% em setembro, na comparação com o mês imediatamente anterior. “No acumulado do ano, o setor também aparece como um impacto negativo importante”, notou o gerente do IBGE.
No ano até outubro, o setor exibe retração de 6,3% ante igual período do ano passado, a terceira maior influência negativa na queda de 7,8% verificada no total da indústria, de acordo com o IBGE. “São vários produtos mostrando queda, mas principalmente o óleo diesel e a gasolina”, explicou Macedo.
Máquinas e equipamentos
Quanto à alta de 0,9% na produção de máquinas e equipamentos em outubro ante setembro, André Macedo destacou que ela é “pontual”. Segundo ele, o movimento foi puxado por bens de capital usados pela própria indústria, mas todos os outros artigos permaneceram em queda.
Segundo o IBGE, a fabricação de máquinas para os setores agrícola e elétrico teve retração importante na passagem do mês. “Por isso, é uma leitura extremamente pontual. A configuração maior é de queda”, disse Macedo.
“Embora possa ter tido algum tipo de soluço, isso em nada modifica a análise que temos para o conjunto da atividade, que permanece com redução importante e contribuição negativa significativa no contexto total da indústria ao longo do ano de 2015, influenciado pelo baixo nível de confiança dos empresários e pela retração dos investimentos”, explicou o gerente.
Não à toa, os bens de capital, bastante influenciados pelo setor de máquinas e equipamentos e também pelo encolhimento na produção de caminhões na passagem do mês, atingiram em outubro a maior queda da série histórica, iniciada em janeiro de 2002. Em 12 meses, o recuo chegou a 22,3% na produção, sem precedentes na pesquisa.