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Bloco mais antigo de São Paulo, Esfarrapado se orgulha da fidelidade

Apesar de o cortejo só ter saído às 14h, fã que é fã já estava a postos muito antes, ainda minutos mais cedo do que as 10h, horário marcado para o início da concentração. E, no caso do Bloco Esfarrapado, o mais antigo de São Paulo, a paixão dos foliões transcende o próprio carnaval – é algo que está acoplado ao RG, uma espécie de descrição que se segue ao nome, do tipo: sou Fulano de Tal, tenho tantos anos, nasci e moro no Bexiga e sou Esfarrapado.

O bloco nasceu no carnaval de 1947 e os foliões se gabam de que nunquinha, nunquinha mesmo, o cortejo deixou de sair, religiosamente, na segunda-feira de carnaval. “Nem na época da ditadura, quando éramos perseguidos e tínhamos de desfilar meio que na clandestinidade”, conta o funcionário público Maurizio Bianchi, de 53 anos, atual presidente do bloco.

Ao contrário do que possa parecer, não há nenhum melindre dos “esfarrapados” com esse turbilhão de blocos, que maravilha, olha só a folia dominando as ruas de São Paulo, que de uns anos para cá passaram a proliferam em tudo que é canto da cidade, da Vila Madalena aos confins da zona leste, do centro ao Largo 13, de Santana à Vila Mariana. “É essa diversidade dos blocos que fez com que a população se voltasse para o carnaval de São Paulo. Fez com que melhorasse a própria organização do carnaval”, diz Bianchi. “E isso se reflete até em nosso público, que aumenta a cada ano.” Pelas suas contas, foram 55 mil no ano passado e, neste ano, 65 mil.

O cortejo saiu da Rua Conselheiro Carrão, e foi vencendo, uma a uma, marchinha a marchinha, passos ritmados e constantes, as ruas Marquês de Leão, Una, Rocha, a Praça 14 Bis, as ruas Manoel Dutra, Maria José, a Avenida Brigadeiro Luis António, as ruas Major Diogo, Santo Antonio, e a Avenida 13 de Maio… Ufa! Itinerário que Bianchi sabia de cor e salteado e recitava a quem perguntava ainda na parte da manhã. Itinerário que foi cumprido às 17h.

Mas, como dizíamos, folião que é fã é mais que folião, e a multidão já se aglomerava ali no Bixiga ainda na parte da manhã. Bianchi, o presidente, diz é daqueles que, literalmente, contam a idade pelos carnavais. “Faz 53 anos que desfilo aqui, porque meus pais me trouxeram no colo logo que nasci”, gaba-se.

O advogado Rubens Machioni, de 66 anos, “só” tem 56 carnavais pelo Esfarrapado. “Com 10 anos já vinha. E sozinho”, conta ele, que sempre morou no bairro. “É o único bloco que vou. Sou fiel. Não viajo nunca no carnaval, porque meu compromisso é com o Esfarrapado.” A paixão está até na tela de fundo de seu celular, com o símbolo da agremiação e, claro, da escola de samba Vai-Vai, patrimônio também do Bixiga. “Sou torcedor da Vai-Vai mas, para mim, o Esfarrapado é ainda maior”, diz. “Porque o bloco ainda é a essência do carnaval, a escola de samba acabou virando uma empresa.” Ele define o Esfarrapado como uma “instituição” do bairro.

A técnica em nutrição Selma Monteiro, de 53 anos, segue o bloco há duas décadas. Antiga moradora do Bixiga, segue chegando cedo nas segundas de carnaval mesmo depois de ter se mudado para a Penha, na zona leste de São Paulo. E leva a família toda. Ontem, eram em seis – o mais novo, o neto Miguel, de 3 anos. “Carnaval é quando revejo meus amigos”, comenta ela, enquanto cumprimenta um e sorri para outro. “E o Esfarrapado é isso: é família, é bem organizado e todo mundo conhece todo mundo.”

A professora Márcia Ferri Sobrosa, de 72 anos, não economiza elogios à folia de rua. “É isso que precisa ser incentivado”, diz. “O carnaval é isso. E não a avenida que limita. Na rua está o carnaval de verdade, a festa do povo.”

Morador do Bixiga há mais de 30 anos, o aposentado Geraldo Jacote, de 71 anos, também bate cartão no Esfarrapado. “Chego antes das 10h e só vou embora quando o último folião arreda o pé”, comenta ele, que tem “a sorte” de morar a duas quadras do ponto de concentração do bloco.

Se por um lado o tradicional bloco costuma agradar carnavalescos das antigas, por outro, a fama atual atrair cada vez mais foliões de primeira viagem, sobretudo nos carnavais paulistanos. É o caso da carioca radicada em São Paulo Paula de Sousa Lima, professora, de 34 anos. “Sempre passo o carnaval no Rio, mas desta vez fiquei por aqui. Estou gostando muito, estou surpresa com a festa paulistana”, diz.

Outro forasteiro era o sósia profissional do Quico – do seriado mexicano Chaves – Rogério Favo, de 37 anos. Devidamente caracterizado, ele, que mora em Porto Alegre, se esbaldava pela primeira vez em um bloco de São Paulo. “O carnaval daqui está muito bom. É festa e alegria”, afirma.

Ao seu lado – por coincidência – um folião caracterizado de Chaves roubava a atenção dos demais, muitos sedentos por tirar fotos para postar nas redes sociais. Era o músico Erivelto Garnero, de 56 anos. “Vim de Chaves porque ele é o mito da alegria e tem tudo a ver com carnaval e com o Esfarrapado”, explica. “Carnaval é roupa mais velha e felicidade, essa simplicidade que festeja.”

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