A queda nas vendas do varejo em 2015 frustrou os planos de quem contava com as contratações de Natal para voltar ao mercado de trabalho ou reforçar a renda. O ano passado foi o primeiro a registrar diminuição no número de vagas temporárias oferecidas pelo comércio e pelos serviços no País e, pior, o porcentual dos empregados que foram efetivados nos cargos também deve ser o mais baixo registrado por instituições que acompanham o mercado de trabalho. Em 2016, a situação deve apresentar ligeira melhora já na criação de vagas provisórias para a Páscoa, segundo estimativas do setor, mas especialistas ponderam que ainda é cedo para falar em uma retomada expressiva das contratações temporárias.
Pesquisas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontam que as contratações provisórias para o Natal devem ter recuado 4,8%, de 142,7 mil em 2014 para 139,6 mil em 2015. Trata-se da primeira queda nas vagas de fim de ano desde que a CNC começou a acompanhar este dado, em 2009.
Se confirmado, o resultado configurará um retrocesso de três anos, com a quantidade de empregos sazonais ficando no menor nível desde 2012, quando somou 135,2 mil. “Temos percebido a redução no volume de vendas do varejo, a confiança do consumidor e do comerciante têm atingido níveis historicamente baixos, a inflação eleva os preços e a taxa de juros elevada encarece o crédito. Todo esse contexto explica essa menor expectativa de efetivação de temporários em 2015”, afirma Izis Ferreira, da Divisão Econômica da CNC.
Já pelos números do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros e de Trabalho Temporário do Estado de São Paulo (Sindeprestem), a admissão de funcionários provisórios no fim de 2015 deve registrar um tombo ainda maior: 105 mil empregos temporários ante 163 mil no mesmo período de 2014. Este número representa uma retração de 35% na comparação com o ano anterior, de acordo com pesquisa feita em parceria com a Federação Nacional dos Sindicatos das Empresas de Recursos Humanos, Trabalho Temporário e Terceirizado (Fenaserhtt). Também por este levantamento, 2015 seria o primeiro ano desde 2007 em que haverá diminuição dos empregos de fim de ano.
A efetivação dos trabalhadores também deve ter caído no ano passado. Segundo a CNC, a média histórica de contratações de temporários variava entre 20% e 23%. Este porcentual recuou para 18,4% entre 2009 e 2013 e atingiu 17% em 2014. A projeção da CNC para 2015 é de que a retração nas efetivações se acentue e fique entre 10% e 15%, segundo a economista Izis Ferreira. Com base no cenário mais otimista da Divisão Econômica da CNC, cálculos do Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, apontam que cerca de 20 mil temporários de 2015 continuariam no emprego, número inferior à média de 23,6 mil do período de 2009 a 2013. Considerando a expectativa mais pessimista, porém, as efetivações cairiam quase à metade da média histórica, para 13,8 mil.
De acordo com o Sindeprestem, 48% das empresas afirmam que os contratos firmados para o fim de 2015 devem durar de dois a três meses e a efetivação deve ficar em apenas 5%, o que representaria 5,2 mil vagas. O sindicato aponta a desvalorização do real, o aumento da taxa de juros e a inflação elevada como fatores que limitam a intenção de contratação das empresas.
Páscoa
Para a próxima data comemorativa em que são tradicionais as contratações temporárias, as perspectivas são melhores. Cerca de 26,5 mil brasileiros devem ser contratados entre outubro de 2015 e março de 2016 para a produção, promoção e venda de produtos de Páscoa por indústrias e lojas especializadas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). O número é maior que as 24 mil contratações temporárias para a Páscoa de 2014 e as 20 mil para a de 2013.
O setor não é o único a estar otimista em relação ao mercado de trabalho para este ano. Um levantamento da CNC em dezembro apontou que houve um esboço de reação na intenção de admitir trabalhadores no comércio varejista. O ímpeto de contratação avançou 6,6% na passagem de novembro para dezembro, na série com ajustes sazonais. Apesar da alta na margem, em relação a dezembro de 2014, no entanto, foi registrada uma queda de 27% na perspectiva de emprego de novos funcionários.
A economista Izis Ferreira pondera que estes dados positivos precisam ser vistos com cautela e ainda não é possível falar em retomada das contratações. “Os dados de dezembro sinalizam que até há uma esperança dos empresários de que 2016 pode ser melhor para as contratações, mas, sem dúvida, é preciso aguardar os dados referentes a janeiro para uma interpretação mais correta, já que não há evidências de que o fundo do poço na economia tenha passado”, afirmou.