A aquisição da fatia da empresa de recuperação de crédito Recovery, do BTG Pactual, no final do ano passado, por R$ 1,2 bilhão, foi um passo estratégico para o Itaú Unibanco, explicou nesta terça-feira, 2, o presidente da instituição financeira, Roberto Setubal. “A Recovery tem competências na cobrança de créditos bastante diferenciadas no mercado. Os níveis de recuperação de crédito são melhores de forma geral do que a média do mercado e nós vemos valor nisso”, explicou, em entrevista coletiva à imprensa.
Setubal disse que o Itaú já se utilizava dos serviços da Recovery e que, agora, com essa aquisição, a meta é ampliar ainda mais o uso da empresa, o que poderá ajudar com que o Itaú melhore ainda mais seus níveis de recuperação de crédito. “Depois de um prazo de inadimplência muito grande, de mais de 180 dias, 1 ano, a ligação do cliente com o banco diminui muito”, disse, lembrando que esse fator acaba dificultando a recuperação desse crédito em atraso pelo Itaú.
Em seu balanço divulgado no início da manhã desta terça, o Itaú informou que ao final do quarto trimestre de 2015, transferiu ativos com empresa ligada, sem retenção de risco, com menor perspectiva de recuperação, relativos a grupos econômicos específicos. “Caso não as tivéssemos realizado, o índice de inadimplência acima de 90 dias da carteira total e da carteira de pessoas jurídicas teriam atingido 3,7% e 2,3%, respectivamente, em dezembro de 2015”, acrescentou o banco no documento que acompanhou o seu demonstrativo financeiro.
O presidente do banco disse que essa venda de ativos ocorreu para dentro do próprio grupo e que já havia provisão para esse crédito vencido, o que provocou impacto praticamente nulo no balanço. “Víamos esses créditos no balanço sem perspectiva de recuperação, não tinha sentido manter no balanço”, explicou. Segundo ele, a expectativa é tonar essa área de cobrança ainda mais ativa com a Recovery .
Fundada há 15 anos na Argentina e presente no Brasil desde 2006, a Recovery é líder na gestão e cobrança de créditos inadimplentes, com participação de mercado de 67% no Brasil, onde estão concentradas 90% de suas atividades. Com R$ 45 bilhões de créditos administrados e 11 milhões de pessoas em carteira, a empresa faturou no ano passado R$ 60 milhões.
Área de atacado
A reorganização da área de atacado do Itaú Unibanco, que ocorreu no ano passado, reflete a mudança do mercado, como a fraca atividade do mercado de capitais, disse Roberto Setubal. “O banco está sempre em reorganização. Nos últimos dez anos, sempre houve uma área sendo reorganizada. Acontece muito porque o mercado muda muito”, explicou.
No ano passado, o Itaú BBA passou por algumas mudanças em suas diretorias e reorganizou sua estrutura. Um dos marcos foi a saída do vice-presidente Jean-Marc Etlin, que chefiava o banco de investimento da instituição.
Setubal disse que o mercado mudou muito, inclusive o de capitais. Dessa forma, foi preciso fazer um reajuste para a área de atacado ficar adequada ao mercado e, assim, mais próxima aos clientes. “Temos que olhar as oportunidades e, em função disso, fizemos um redesenho”, explicou.
No ano passado, diante do enfraquecimento da economia brasileira e do agravamento da crise política, as companhias colocaram em compasso de espera seus investimentos, culminando, entre outros efeitos, na queda da emissão de dívida corporativa e apenas uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês).
As companhias brasileiras captaram R$ 124,8 bilhões no ano passado, o pior volume em sete anos, de acordo com dados divulgados mês passado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Desse total, R$ 92,766 bilhões foram emissões de renda fixa no mercado local, montante que representou, no entanto, recuo de 38% ante o visto no ano anterior.
Inadimplência
O nível de provisionamento esperado pelo Itaú Unibanco neste ano será suficiente para cobrir os níveis estimados de inadimplência, disse Setubal. “Os números refletem tal cenário. Estamos confiantes que a inadimplência vai ficar em tal nível que a provisão será suficiente”, destacou
Para este ano, o banco projeta que as despesas com Provisão para Devedores Duvidosos (PDDs) fique entre R$ 22 bilhões e R$ 25 bilhões, também considerando o resultado consolidado. Para a inadimplência, Setubal disse que acredita que os níveis sigam em alta diante do atual cenário econômico, mas disse ser difícil precisar um patamar.
O índice de inadimplência do Itaú Unibanco, considerando atrasos acima de 90 dias, piorou 0,2 ponto porcentual ao final de dezembro ante setembro, para 3,5%. Em um ano, quando o indicador estava em 3,1%, o aumento nos calotes chegou a 0,4 p.p..
A piora da inadimplência foi impulsionada pelas pessoas físicas, cujos calotes, levando em conta atrasos de mais de 90 dias, avançaram de 5,1% em setembro para 5,4% em dezembro. Em um ano, estavam em 4,7%. Seguindo na contramão, os calotes do segmento pessoa jurídica recuaram 0,1 p.p. no quarto trimestre ante o terceiro, para 1,9%. Em 12 meses, foi vista alta de 0,1 p.p..