O primeiro-ministro da Irlanda, Enda Kenny, anunciou nesta quarta-feira que o país realizará eleição geral no fim de fevereiro. Com isso, Kenny deu a largada para uma campanha que deve ser dominada por discussões sobre o grau em que a recuperação econômica do país é sentida pelos eleitores.
Pesquisas apontam o próprio Kenny como favorito, porém provavelmente à frente de uma coalizão mais diversificada e frágil. Caso vença, o premiê da Irlanda será o primeiro de um país da zona do euro a conduzir uma agenda de austeridade e conseguir um segundo mandato.
O atual mandato de Kenny termina em abril, mas ele decidiu convocar a eleição já para 26 de fevereiro. A intenção é que o Parlamento eleito comece a trabalhar em 10 de março.
A Irlanda registra um aumento no sentimento contrário ao establishment político, tendência vista em partes da Europa e dos Estados Unidos. A votação ocorre também em um momento de rápida mudança social. Conhecida então como o “Tigre Celta”, a Irlanda passou por um boom econômico nos anos 1990 e no início dos 2000, mas em seguida sofreu com uma crise econômica, diante do fim de uma bolha do setor imobiliário a partir de 2007 e do colapso associado no sistema bancário.
Em outro tema que atrai a atenção dos eleitores, no ano passado a Irlanda tornou-se o primeiro país a legalizar o casamento gay pelo voto popular. Agora, há crescente pressão para que seja revista a proibição constitucional de abortar em quase qualquer circunstância. Muitas mulheres burlam essa restrição viajando para a Inglaterra.
Pesquisas indicam que o partido Fine Gael, de Kenny, segue como o mais popular, porém deve conseguir menos votos que em 2011. Além disso, o centro-esquerdista Partido Trabalhista, parceiro da coalizão, perdeu muito apoio, segundo as sondagens. Kenny e seu partido de centro-direita estão no poder há cinco anos, que começaram com aumento de impostos e cortes de gastos, no âmbito de um programa de resgate da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). No ano passado, foi decretado o fim de impopulares medidas de austeridade, com pequenos cortes em tributos e aumento de gastos.
A economia da Irlanda registra o crescimento mais forte na Europa há dois anos, graças a exportações fortes para os EUA e o Reino Unido, e deve repetir esse desempenho neste ano. O Banco Central da Irlanda estima crescimento econômico de 6,5% em 2015 e projeta que o PIB irlandês avance 4,8% neste ano. A taxa de desemprego, porém, permanece bem acima de antes do início da crise em 2007, apesar de ter recuado rapidamente nos últimos anos. Os salários, além disso, não se recuperaram para os patamares anteriores e as taxas de juros estão entre as mais altas na Europa. Fonte: Dow Jones Newswires.