Aos 35 anos, a professora consolidada Ana Lúcia Rodrigues guarda com carinhos as lembranças da infância em Guarulhos, cidade em que morou até os nove anos. Aninha, como é conhecida, enfrentou diversas ‘reviravoltas’ na vida e hoje, uma mulher, deve tudo o que tem ao futebol, meio dominado por homens.
Ajudante geral, senhor Francisco perdeu o emprego quando Aninha não havia completado a primeira dezena de vida. Então, ao lado dele, seu irmão e sua mãe, ela foi morar no Itaim Paulista. Posteriormente, a família conseguiu adquirir um apartamento em um conjunto habitacional na Cidade Tiradentes, também na Zona Leste.
Há um ano, contudo, Ana viveu o maior trauma de sua vida. Dona Geny, sua mãe, morreu aos 71 anos, vítima de insuficiência cardíaca “Foi minha maior incentivadora, no esporte e na vida. Era uma mulher afetuosa, que admirava o que eu fazia”, lamenta.
Dona Geny felizmente pode ver o progresso de sua filha. Assim que atingiu a maioridade, Ana viu sua vida ganhar novo sentido, novamente em Guarulhos, por meio do esporte. “Aos 18 anos, voltei para fazer uma peneira de futsal no Mult-Força. Conheci os treinadores Adailton e Altino, que foi um grande incentivador, me falou que o esporte iria me ajudar muito e me perguntou se eu queria fazer faculdade”, afirma.
“O esporte sempre fez parte da minha vida, todos eles. Mas, o futebol abriu portas para eu fazer faculdade e conseguir oportunidades melhores profissionalmente. Eu sempre soube que queria ser professora de educação física. Ao mesmo tempo que o Altino sempre me ajudou, ele sempre me pediu pés no chão e me dizia que eu não podia somente contar com o futsal, que iria passar. Ele enfatizava que eu deveria estudar”, complementa a atleta, que representou Guarulhos em diversas competições de nível estadual e federal.
Atualmente, licenciada, bacharelada, e pós-graduação em Educação Física Escolar em Fisiologia do Exercício e Metabolismo, Ana trabalha em uma escola particular no município, emprego conquistado em 2008. “Comecei como professora de integral e fui assumindo mais turmas. Ia abraçando tudo no começo porque precisava amadurecer”, explica.
Em 2016, outro esporte entrou na vida da professora. Seu irmão Alexandre a levou para andar de bicicleta e foi amor à primeira vista. “O ciclismo entrou e veio para ficar”, relata. Contudo, apesar de experiente, a atleta ainda joga futebol e faz parte da equipe fut-7 do Corinthians, seu time de coração.
Ainda a respeito do futebol, sua paixão, ela avalia positivamente o progresso da modalidade nos últimos anos, mas lamenta que ainda exista preconceito contra mulheres que preferem a chuteira ao salto. “Já diminuiu bastante. Na minha época existiam expressões maldosas, como Maria Homem e Joãozinho. Eu ficava no meio de 10 meninos jogando bola, hoje existem mais meninas brincando e jogando. Mas, também há diferença em relação à divulgação, salários e engatinhamos na igualdade no futebol”, finaliza Ana.
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