No dia 27 de março de 2020, ainda no início da pandemia, Guarulhos inaugurava, no Parque Cecap, o Centro de Combate ao Coronavírus, primeiro hospital de campanha do Brasil. No primeiro momento, a unidade atendia pedestres e motoristas – em sistema drive-thru – para uma triagem com suspeitos da doença. Após cinco meses de funcionamento, o 3CGru salvou mais de 600 vidas.
Com pouco mais de uma semana de abertura, o hospital passou a funcionar com um sistema de enfrentamento à guerra. Além do atendimento aos casos suspeitos, a unidade internava – inclusive com alta complexidade – e comemorava, uma a uma, as vidas salvas no local.
O 3CGru contava com avaliação clínica e medição de temperatura por laser para o diagnóstico da Covid-19. Em casos de alteração, o paciente era encaminhado à triagem médica, podendo ser levado imediatamente à UTI, de acordo com a classificação, exigindo até exames mais complexos, como a tomografia, também disponibilizada no ambiente.
Inicialmente com 71 leitos, sendo dez de alta complexidade e outros quatro em uma sala vermelha, utilizada para casos mais graves, o 3CGru foi se adequando às necessidades e, diante de uma crise de leitos e o colapso do sistema, entre maio e junho, foi essencial no combate ao vírus em Guarulhos. Com o apoio do governo federal, o hospital chegou a receber duas dezenas de leitos em meio ao caos da ocupação das unidades de terapia intensiva.
Com um mês de funcionamento 24 horas por dia, o Centro de Combate ao Coronavírus se aproximava dos dez mil atendimentos. Em 4 de setembro, dia do encerramento do local, os números multiplicaram. Foram contabilizados mais de 39.700 atendimentos no local, incluindo internações, consultas médicas e encaminhamentos para isolamento domiciliar, bem como 89.560 exames (bioquímicos, ultrassom, tomografia computadorizada e raio X) e registrados 86 óbitos. Contudo, dos mais de 800 pacientes de alta complexidade que ficaram internados no 3CGRU, mais de 600 se recuperaram e puderam voltar para a casa, além de pouco mais de 120 transferências realizadas, o que representa uma taxa de recuperação de 87,5%.
Histórias de superação, como a de dona Nenê que, em abril foi a mulher mais velha do Brasil a superar a doença e do senhor Nelson Cruz que, aos 80, recebeu a alta médica – a de número 500 do local – após 30 dias de luta, também se misturaram com o projeto do 3CGru. Até para sua construção, foi necessário que um gestor abdicasse do convívio com a família para se dedicar em tempo integral à realização do projeto de salvar vidas.
Há necessidade de reativá-lo?
Não. Pelo menos esta é a resposta oficial da Prefeitura, responsável pelo 3CGru. Segundo a gestão, quando o hospital foi construído, a cidade contava com cerca de 70 leitos de UTI no SUS. A unidade do Cecap chegou a ter outras 24 unidades, se aproximando de uma centena delas no município.
Hoje, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, mesmo sem o hospital de campanha, Guarulhos tem, aproximadamente, 200 leitos de UTI no SUS, 144 deles exclusivos para o tratamento de coronavírus. Portanto, a Prefeitura avalia que o investimento na unidade foi necessário naquele momento, mas que hoje o município se readequou para enfrentar a pandemia sem a necessidade do 3CGru.