No início da corrida presidencial de 2020, Joe Biden era visto como um democrata conservador. Os 40 anos que passou em Washington, como senador e vice-presidente, eram apontados pela ala progressista do partido como um sinal de que uma presidência dele seria apenas mais da mesma velha política. Em 100 dias na Casa Branca, no entanto, ele transformou sua imagem de moderado em uma de presidente reformista.
Em ritmo acelerado, Biden declarou guerra à pandemia – e já consegue vê-la pelo retrovisor -, foi menos conciliatório e mais ousado do que esperavam e propôs transformar o tamanho do Estado americano. Biden quer fazer o governo federal, os mais ricos e as empresas financiarem a revitalização da infraestrutura dos EUA, o maior acesso à educação e à saúde e a criação de empregos para a classe média. Tudo isso com uma economia mais sustentável e ambientalmente consciente. Com três pacotes trilionários (um deles aprovado e os outros dois sob teste), ele quer colocar o governo no centro da resposta à crise econômica.
A inspiração é clara. Ao redecorar o Salão Oval, Biden fez questão de que a imagem de um ex-presidente americano ficasse em frente à mesa de onde ele despacha: a de Franklin Roosevelt, conhecido pela proatividade nos 100 primeiros dias de governo e por aumentar o tamanho do Estado para tirar os EUA da Grande Depressão.
"Temos de provar que a democracia ainda funciona. Que nosso governo ainda funciona – e pode ajudar as pessoas", diz Biden, em trecho antecipado de seu primeiro pronunciamento ao Congresso, na noite de ontem. Antes de assumir, ele sabia que qualquer conquista seria inócua se o país não superasse a pandemia que matou mais de 570 mil pessoas nos EUA, mas chega à data com sua principal promessa cumprida: a de aplicar 100 milhões de doses de vacinas nos 100 primeiros dias. A meta foi revisada no meio do caminho e ampliada para 200 milhões, algo que ele também atingiu.
A senadores e deputados, Biden tentou relembrar que herdou um país em crise, mas que ele colocou os EUA "em movimento". "A pior pandemia em um século. A pior crise econômica desde a Grande Depressão. O pior ataque à nossa democracia desde a Guerra Civil."
Desde que foi marcado, já se sabia que o discurso teria uma carga simbólica: a fala do presidente na mesma sala atacada em janeiro por extremistas pró-Trump, que tentaram impedir a certificação de sua eleição. "Agora, depois de apenas 100 dias, posso dizer à nação: os EUA estão em movimento novamente. Transformando o perigo em possibilidades. Crise em oportunidade. Revés em força", dizia outro trecho do discurso.
Mais da metade dos adultos nos EUA já recebeu ao menos uma dose de alguma das três vacinas disponíveis. Os imunizados já podem sair ao ar livre sem máscara e fazer planos de comemoração do Dia de Independência, em 4 de julho. Os negócios voltaram a abrir. "Estamos vacinando a nação. Estamos criando centenas de milhares de empregos. Estamos entregando resultados reais que as pessoas podem ver e sentir em suas próprias vidas. Abrindo as portas da oportunidade. Garantindo equidade e justiça", comemora o presidente, ainda de acordo com outro fragmento de seu discurso.
Segundo assessores, Biden usaria sua fala para vender seu plano econômico. "Wall Street não construiu o país", garante o presidente americano. "A classe média construiu o país. E os sindicatos construíram a classe média."
O pacote que pretende revitalizar toda a infraestrutura dos EUA deve custar US$ 2,2 trilhões, com uma injeção de investimento federal em obras para criar empregos e consolidar a agenda ambiental do democrata. Com 55% de aprovação, Biden chega aos 100 dias mais popular do que Trump, mas menos do que Barack Obama.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>