Nem mesmo indicativos de retomada da atividade da China, país do qual o Brasil é grande parceiro comercial, conseguem sustentar alta firme do Ibovespa nesta sexta-feira, 15, que caminha para encerrar se segunda semana de queda seguida. Até o momento acumula recuo de 1,42%.
Em Nova York, o sinal é negativo, embora tenha reduzido a magnitude após resultados com desempenho misto de indicadores da atividade norte-americana, indicando que a retomada será desigual e demorada. Já na Europa, os dados fraquejaram ainda mais, com a Alemanha entrando em recessão técnica.
Já na B3, a sexta-feira é de gangorra, com o índice tendo passado pela mínima de 78.544,77 pontos e máxima de 79.538,23 pontos. As ações da Petrobras são destaque de alta, mesmo após informar prejuízo ontem à noite de R$ 48,5 bilhões no primeiro trimestre.
O presidente da estatal, Roberto Castello Branco, disse, em teleconferência, que o programa de desinvestimentos permanece intacto, o que, de certa forma, ajuda a reduzir as incertezas de investidores. Disse que a ideia é focar em ativos em que a empresa considera mais importantes para o seu negócio.
Às 11h27, Petrobras PN subia 3,74% e ON, 5,37%. Já Vale subia em torno de 1,00%, enquanto CSN cedia cerca de 5%, após informar prejuízo no primeiro trimestre, de R$ R$ 1,312 bilhão. O Ibovespa caía 0,31%, aos 78.768,35 pontos.
"Todo mundo sabia que os balanço viria ruim, e preciso avaliar como ficará o caixa daqui para frente", afirma estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
Além de temores com a demora na retomada econômica mundial, há sinais de novas tensões comerciais entre Pequim e Washington, que se soma a um terremoto de magnitude 6,4, que atinge Nevada (EUA), hoje, com repercussão no leste da Califórnia.
Mais cedo, o resultado do comércio varejista dos EUA decepcionou. As vendas no varejo norte-americanas caíram 16,4% em abril ante março, ficando mais negativas do que as previsões, de declínio de 12,3%. "Reforça o que o Powell Jerome Powell, presidente do Fed alertou esta semana sobre a economia, sobre a retomada", diz o Laatus. Powell disse, entre outras palavras, que vai demorar mais tempo para a recuperação, diante de incertezas por conta da pandemia de coronavírus.
Apesar do crescimento de 3,9% na produção da China, as vendas do varejo e os investimentos do país caíram mais do que o previsto, sinalizando um processo de retomada ainda incerto após o isolamento social por conta do novo coronavírus. "As perspectivas são de continuidade da recuperação gradual na China, na medida em que importantes parceiros comerciais do país voltem a operar, principalmente na Europa, onde se iniciou a retomada da atividade econômica neste mês, avalia a nota da MCM.
Para Laatus, nem mesmo isso deve livrar o Ibovespa de queda, ainda mais que o clima sino-americano está ficando pior. Hoje saiu a informação de que a China pretende ativar a "lista de entidades não confiáveis", restringindo ou investigando empresas americanas como Qualcomm, Cisco e Apple. Também suspenderá a compra de aviões da Boeing.
No Velho Continente, a Alemanha, a maior economia da Europa, entrou em recessão técnica após o Produto Interno Bruto (PIB) encolher 2,2% no primeiro trimestre de 2020 ante o quarto trimestre de 2019 (-0,1%). Já o PIB da zona do euro caiu 3,8% no período, registrando a maior contração na série histórica iniciada em 1995, com expectativa é de recuo mais intenso no segundo trimestre e de retomada gradativa somente no trimestre seguinte.
No Brasil, apesar de o IBC-Br do Banco Central ter mostrado queda, os resultados ficaram menos negativos do que as medianas na pesquisa do Projeções Broadcast. Em março, houve declínio de 5,9%, pouco inferior à mediana de -6,0% (-8,63% a -3,6%), enquanto no primeiro trimestre caiu 1,95% (-2,9% a -1,2%, mediana de -2,05%).
"Mas ainda é cedo para tirar qualquer conclusão. É um indicador de março, e ainda não sabemos como ficarão as medidas de isolamento social nas cidades brasileiras. Há até possibilidade de lockdown em São Paulo", diz o estrategista. Além do mais, o IBC-BR ainda não contabilizou todo o efeito da pandemia, cujo maior agravamento tem ocorrido em maio.