O pior momento da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus sobre a atividade econômica já teria passado, mas os efeitos adversos sobre o mercado de trabalho tendem a persistir durante algum tempo, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
"No início de um processo de recuperação econômica, a taxa de desocupação pode aumentar. É provável que a taxa de desemprego continue alta, mas não por uma piora do mercado de trabalho, e sim pela melhora da percepção das pessoas sobre o ambiente para procurar emprego", explicou Marco Cavalcanti, diretor adjunto de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea.
Cavalcanti lembra que a recuperação do mercado de trabalho costuma ter uma defasagem em relação à retomada da atividade econômica. O pior momento para a economia, segundo ele, terá sido em abril, caso o controle da pandemia se mantenha evoluindo favoravelmente, sem necessidade de novos períodos de isolamento social.
"Os indicadores (de atividade econômica) de maio e junho já mostram uma melhora", disse o pesquisador do Ipea.
A manutenção do processo de flexibilização gradual das restrições de circulação de pessoas e funcionamento de atividades econômicas deve fazer as condições do mercado de trabalho melhorarem aos poucos. No entanto, o quadro socioeconômico ainda será um desafio para a equipe econômica, que deve "buscar um ritmo adequado de transição das medidas excepcionais de política voltadas para a preservação de empregos, renda e produção – que têm se revelado fundamentais para atenuar os impactos econômicos e sociais da crise -, para um regime de política que continue a prover assistência aos mais necessitados, mas seja fiscalmente sustentável", defendeu o Ipea, na Carta de Conjuntura divulgada nesta sexta-feira.
A taxa de desemprego passou de 11,8% na semana de 31 de maio a 6 de junho para 12,4% na semana de 7 a 13 de junho. No mesmo período, o número de desempregados cresceu de 11,228 milhões para 11,854 milhões, mais 626 mil pessoas em busca de uma vaga em apenas uma semana. Os dados são da Pesquisa Nacional de Domicílios Contínua Covid (Pnad Covid), divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O total de trabalhadores ocupados diminuiu de 83,733 milhões para 83,479 milhões, o equivalente a 254 mil demissões em uma semana. Por outro lado, o número de pessoas que estavam afastadas de suas atividades profissionais devido ao distanciamento social caiu de 13,504 milhões na semana de 31 de maio a 6 de junho para 12,393 milhões na semana de 7 a 13 de junho. Ou seja, a flexibilização das medidas de isolamento em algumas regiões do País pode ter levado de volta ao trabalho 1,111 milhão de pessoas na segunda semana de junho.
"Suspeitamos que tenha a ver com a flexibilização, que está permitindo uma volta ao trabalho, uma volta ao normal, na medida do possível. O trabalho presencial está voltando", disse Cavalcanti.
O Ipea pondera, porém, que as informações da Pnad Covid referem-se a uma amostra pequena e que "há grande incerteza sobre o ritmo de disseminação do SARS-Cov-2 no país e a magnitude e extensão das medidas de isolamento social requeridas para atenuar seus impactos adversos na população".