Um dia depois de a operação no Jacarezinho, na zona norte do Rio, resultar em 25 mortos, o PSB pediu ao Supremo Tribunal Federal que a Corte solicite ao Ministério Público Federal uma investigação sobre suposto crime de desobediência da decisão que suspendeu as incursões policiais nas comunidades fluminenses durante a pandemia. Junto da Defensoria Pública e organizações de direitos humanos, o partido também pede que sejam esclarecidos os contornos da decisão e os critérios de exceções previstos pela Corte.
Mais cedo, o ministro Edson Fachin pediu ao procurador-geral da República Augusto Aras uma apuração sobre a operação no Jacarezinho. Fachin afirmou que os casos relatados são graves e que há indícios de execução arbitrária no episódio.
Entre os pedidos do partido estão que o STF impeça a cúpula da Segurança do Rio de realizar operações fora dos parâmetros fixados pelos ministros e que a informações sejam repassadas sobre possível uso abusivo da força na operação em Jacarezinho.
O plenário do Supremo validou em agosto do ano passado a suspensão de operações em comunidades durante a pandemia. Os ministros fizeram uma ressalva para incursões em casos excepcionais, desde que acompanhamento do Ministério Público.
Para o PSB, o Supremo precisa dar contornos mais precisos e claros sobre o conceito de absoluta excepcionalidade que permite operações como a que ocorreu em Jacarezinho nesta quinta.
"A absoluta excepcionalidade, condição imposta por esta Suprema Corte, tornou-se um mero artifício retórico, um dispositivo trivial que ancora quaisquer discursos e práticas das autoridades governamentais, que afirmam – como o fez, in verbis, o chefe de Polícia Civil – que a situação no Rio de Janeiro já seria um caso de exceção ou extraordinária, e com isso, qualquer operação policial estaria justificada de antemão", argumentou o partido.
A Polícia Civil do Rio argumentou que realizou a operação para apurar suposto aliciamento de menores e sequestro de trens da SuperVia pelo Comando Vermelho.
Em entrevista à imprensa após a operação, o delegado Rodrigo Oliveira disse que todos os protocolos estabelecidos pelo STF foram seguidos na ação, mas que a situação era mais do que uma excepcionalidade.
De acordo com a plataforma Fogo Cruzado, que conta com vasta base de dados sobre tiroteios no Rio, a operação de hoje foi a que teve o maior número de mortes desde 2016, quando começou a série histórica. Em 2021 a organização já registrou 30 casos em que três ou mais pessoas foram mortas a tiros em uma mesma situação no Grande Rio.