O câmbio voltou a operar volátil no Brasil nesta quinta-feira, 13, após a forte alta da quarta-feira. O mercado internacional ensaiou uma correção dos exageros da véspera, provocados pela inflação ao consumidor acima do previsto nos Estados Unidos, que ora engatava, ora perdia fôlego, deixando o dólar ante o real também com ritmo incerto. O noticiário doméstico, incluindo o andamento da CPI da Covid em Brasília e pesquisa mostrando liderança do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida presidencial de 2022 foram monitorados, mas sem efeito nos preços.
Após ir a R$ 5,33 na máxima do dia e cair a R$ 5,25 na mínima, o dólar à vista encerrou o dia em alta de 0,15%, a R$ 5,3133. No mercado futuro, o dólar para junho operava perto da estabilidade às 17h38, em R$ 5,3115.
Novo número de inflação dos EUA, nesta quinta com o índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês), confirmou preços em aceleração, mas sem a mesma repercussão da quarta nos ativos com a inflação ao consumidor. O PPI subiu 0,6% em abril, o dobro do esperado por economistas em Wall Street.
Mas declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ajudaram a reduzir a preocupação e as taxas longas dos juros americanos caíram para a casa dos 1,65% no final da tarde desta quinta, considerando os papéis de 10 anos, após encostarem em 1,70% na quarta. A baixa ajudou o dólar perder força em alguns emergentes. O responsável pela regional de Richmond do Fed, Thomas Barkin, disse que não vê fatores que apontem para uma alta persistente da inflação nos EUA.
Após as surpresas com a inflação na quarta e na quinta, o analista de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, avalia que o dólar pode ganhar força novamente na sexta, caso as vendas do varejo americano surpreendam, pois seriam um indício de que o Fed pode ter que retirar os estímulos monetários mais cedo. "Indicadores que sinalizem que a economia americana está andando em velocidade mais rápida do que o esperado podem adicionar combustível na recuperação do dólar."
Após a alta de 9,7% nas vendas do varejo em março, a expectativa é forte para o dado de abril. O Deutsche Bank espera crescimento de 2%.
O gestor da Western Asset Management, Adauto Lima, observa que é preciso ver se a força da inflação americana prossegue nos próximos meses. Por ora, parece reflexo da demanda maior, com a reabertura dos negócios, mas mesmo assim tem contribuído para fortalecer o dólar e afetar outros ativos. O risco está na crescente pressão de gastos fiscais que podem mudar essa dinâmica, ressalta. "Fica a percepção de que a economia americana está mais forte. Este tipo de volatilidade deve persistir."
Sobre o real, Lima comenta que a moeda brasileira está tirando o atraso que tinha em relação a outras divisas emergentes. Mesmo com a melhora recente, o real ainda está muito descontado ante seus pares, por causa do risco fiscal e político. Nas últimas semanas, a alta das commodities e dos juros pelo Banco Central ajudaram a alinhar mais a moeda brasileira com seus pares, mas o risco fiscal limita este movimento. O gestor da Western Asset destaca ainda que a questão eleitoral de 2022 terá peso no câmbio, mas por ora ainda não.