O dólar interrompeu uma sequência de seis semanas seguidas de queda ante o real e fechou os últimos cinco dias acumulando valorização de 0,81%. As preocupações com a disparada da inflação norte-americana ajudaram a fortalecer o dólar no mercado internacional. Foi somente no pregão desta sexta-feira que a moeda americana caiu de forma mais consistente, após dois indicadores da atividade dos Estados Unidos, as vendas no varejo e a produção industrial, mostrarem números abaixo do previsto em abril e reduzirem, ao menos por ora, o temor de superaquecimento da maior economia do mundo.
Nos fechamentos, o dólar à vista terminou a sexta-feira em queda de 0,80%, a R$ 5,2710. No mercado futuro, o dólar para junho era negociado em baixa de 0,74% às 17h35, cotado em R$ 5,2765.
O cenário externo teve peso, determinando o comportamento do real nesta semana, mesmo com a CPI da covid esquentando e nova pesquisa eleitoral mostrando liderança do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial, além da denúncia de um orçamento secreto do presidente Jair Bolsonaro. Os investidores monitoraram estes eventos, mas o clima de fuga de ativos de risco no exterior falou mais alto, com o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tenha que retirar mais cedo os estímulos monetários extraordinários adotados na pandemia, que têm inundado o mercado de liquidez e levado recursos aos emergentes.
"Membros do Fed têm contribuído para amenizar as preocupações, ressaltando que o conjunto de dados observado não revela inflação permanente. De qualquer maneira, os mercados ligam o radar", destaca o economista da Amplla Assessoria em Câmbio, Alessandro Faganello.
O presidente da regional de Dallas do BC americano, Robert Kaplan, segue como um dos poucos dissidentes dessa visão e nesta sexta falou que as compras de ativos podem ter que começar a ser reduzidas mais cedo. Para o Brasil, Faganello ressalta que os investidores monitoram os ruídos políticos, mas esta semana o estresse maior veio do exterior.
A analista de moedas e mercados emergentes do Commerzbank, Alexandra Bechtel, avalia que o real se beneficiou recentemente da alta das commodities e da sinalização de altas de juros pelo Banco Central, mas o ceticismo com a valorização da moeda brasileira permanece, na medida em que riscos específicos do Brasil podem reverter este movimento. Ela cita justamente o temor de ruídos políticos e de mais gastos fiscais, caso a pandemia não melhore de forma consistente. O banco alemão prevê o dólar em R$ 5,30 ao final do ano e em R$ 5,00 ao final de 2022. Já a taxa básica de juros deve ir a 5,25% em dezembro e 6% em 2022.
Já o banco Inter melhorou sua projeção para o real, vendo o dólar caindo a R$ 5,20 ao final do ano. A estimativa anterior era de R$ 5,30. "O resultado mais robusto das contas externas, a definição do orçamento reduzindo o risco fiscal e a elevação mais rápida da Selic impactam de maneira positiva o fluxo cambial", comenta a economista-chefe do banco, Rafaela Vitória, em relatório.