A volatilidade voltou a marcar os negócios com o dólar nesta quarta-feira. Após oscilar sem rumo firme pela manhã, a moeda norte-americana acabou firmando queda nos negócios da tarde, influenciada pelo exterior positivo, em dia de busca por ativos de risco no mercado internacional. Indicadores positivos da economia brasileira também ajudaram, com destaque para a criação de empregos mostrada no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e o melhor saldo da história na conta corrente do balanço de pagamentos em abril, influenciado pela disparada dos preços das commodities. Ao mesmo tempo, o temor de uma terceira onda de infecções do coronavírus no Brasil e o alerta da China sobre coibir especulações com commodities atuaram para limitar o movimento de valorização do real e, neste último caso, das moedas de países exportadores destes produtos.
Após subir a R$ 5,34 na máxima do dia, o dólar encerrou o pregão em queda de 0,45%, cotado em R$ 5,3133. No mercado futuro, o dólar para junho, que vence na próxima segunda-feira, cedia 0,52% às 17h35, a R$ 5,3120.
Apesar do temor de uma piora da pandemia, como já começam a sinalizar indicadores de contágio e novos casos de covid-19, economistas e gestores têm mostrado mais otimismo com o quadro doméstico, o que abre espaço para mais valorização do real.
"Parece que haverá um recrudescimento da pandemia, mas provavelmente teremos aumentos de restrição muito mais pontuais, muito mais limitados e, portanto, com impacto econômico menor", avalia a economista-chefe da Rosenberg, Thaís Zara.
Zara comenta que a perspectiva de Selic mais alta, a tendência de melhora da economia com o avanço da vacinação e "alguma acomodação" dos riscos fiscais estão entre os fatores que permitiram melhora do real, disse em evento da LCA pela internet nesta quarta-feira. O próprio Produto Interno Bruto (PIB) crescendo mais contribui para uma consolidação fiscal. "Isso tudo cria espaço para que a gente tenha apreciação do real."
No cenário-base da LCA Consultores para o câmbio, a moeda americana deve fechar o ano em R$ 5,10 e cair a R$ 4,90 em 2022. Este cenário leva em conta o avanço de algumas reformas e a população adulta sendo imunizada até o final do ano. No cenário adverso, marcado por maior turbulência fiscal, a moeda americana poderia ir a R$ 5,70 este ano.
Em evento nesta quarta do BTG Pactual, houve nova rodada de avaliações positivas da atividade doméstica, o que se reflete na expectativa de real mais valorizado. A gestora Genoa Capital não descarta a chance de dólar a R$ 4,80 ainda neste ano. A Meraki Capital Asset Management vê uma "janela favorável para o câmbio" e o ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, atual economista-chefe do BTG, avalia que o dólar deveria estar abaixo de R$ 5,00 se fossem considerados apenas os fundamentos da economia brasileira, como as contas externas. Sobre estas contas, o Banco Central divulgou nesta quarta superávit de US$ 5,66 bilhões em abril, o maior para todos os meses da série histórica.
Ao mesmo tempo, dados do BC mostraram piora dos fluxos externos nos últimos dias. Na semana entre 17 e 21, o fluxo cambial ficou negativo em US$ 593 milhões, levando a saída no mês a US$ 1,117 bilhão.