Estadão

Em livro, filha revive as crises da mãe ‘como uma terapia’

Demorou um ano e meio até a mãe da promotora de eventos Mariela Oppitz Sorgetz, de 51 anos, receber o diagnóstico de Alzheimer. Então com 76 anos, era uma mulher com autonomia e ativa nos grupos da Igreja, mas tudo mudou.

"Os filhos demoram a entender como um percurso alterado da velhice. Não é um esquecimento ou distração, são características comportamentais maiores. Começou com dificuldade para fazer coisas, repetição de perguntas em curto intervalo de tempo. A queda da autonomia foi muito gritante."
Mas outros sintomas confundiam a família. "Ela teve depressão e ansiedade, percebia que tinha a potencialização do sentimento de angústia ao entardecer, choro."

Prestes a completar 85 anos, dona Anninha, como é chamada carinhosamente, já não fala nem reconhece os três filhos. Na fase severa da doença, ela mora com uma cuidadora e também faz sessões de fisioterapia. Tem ainda acompanhamento nutricional.

<b>Quadro crítico.</b> Ela não solicita mais, não fala que está com sede, com dor. Como está sempre sentada ou deitada, precisa de um incentivo para se movimentar e faz fisioterapia sempre duas a três vezes por semana. "Esses cuidados todos não evitam que a doença progrida, mas proporcionam qualidade de vida", diz a filha.

Acompanhando o agravamento da doença da mãe, ela também se viu diante de momentos de tristeza, angústia e medo. Diante disso, começou a escrever um tipo de diário e a guardar as anotações.

"Eu escrevia também para não esquecer o que estava vivendo. E era uma terapia. Se você encontra uma família com Alzheimer, é uma família doente. Aquilo me impactava muito pela proximidade que tinha com minha mãe."

Daí, veio a ideia de transformar as lembranças em livro. "Assumi um compromisso pessoal de escrever o dia a dia de um paciente com Alzheimer e amadureci a ideia durante cinco anos. Com a pandemia, o setor de eventos ficou parado e me deu um intervalo tão grande que pude fazer o livro. É uma oportunidade de falar da doença de forma menos dura."

Em abril, foi o lançamento de Viver sem Saber: Relatos de amor, dor e humor sobre a doença de Alzheimer (Luz da Serra Editora /R$ 49,90). O valor arrecadado com direitos autorais será revertido para ações e entidades que trabalham com o cuidado desses pacientes.

<b>Futuro.</b> Mariela acompanha as novidades sobre a doença e celebra cada avanço da ciência. "Fico sempre muito emocionada com a possibilidade de essa doença não avançar. Como familiar, não vou ter mais essa possibilidade com minha mãe, mas meu desejo é que o mundo se debruce para o tanto que é misterioso o nosso cérebro e essa doença tira a autonomia, a perspicácia e a independência."

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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