O dólar voltou a cair forte ante o real nesta segunda-feira, 14, após subir 1,73% na semana passada. O noticiário interno ajudou a moeda brasileira a ter o melhor desempenho internacional nesta segunda ante a norte-americana, considerando uma cesta de 34 divisas mais líquidas. A antecipação do calendário da vacinação em São Paulo e a marcação da votação da Medida Provisória que abre caminho para a privatização da Eletrobras ajudaram a estimular as vendas de dólares e a entrada de fluxo externo, enquanto os investidores aguardam a Super Quarta , com reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e do Comitê de Política Monetária (Copom), o que reduziu o volume de negócios nesta segunda. A depender da sinalização dos dois BCs, operadores veem chance de o dólar cair abaixo de R$ 5,00 nesta semana.
Após ir a R$ 5,11 na máxima do dia, pela manhã, o dólar acabou fechando em R$ 5,0707, em queda de 1,02%. No mercado futuro, o dólar para julho cedia 1,04%, a R$ 5,0745 às 17h40. Em outros mercados, o dólar chegou a subir mais de 2% no Peru, 1% na Turquia e 0,43% no México.
Para o economista da Amplla Assessoria em Câmbio, Alessandro Faganello, a expectativa pelas reuniões de política monetária aqui e nos EUA, o avanço no ritmo de vacinação e a possibilidade de Produto Interno Bruto (PIB) mais forte criaram um ambiente mais positivo para o real, que acabou descolando dos pares nesta segunda-feira.
Caso o BC sinalize na quarta-feira nova alta de juros em agosto, dependendo da magnitude, e o Fed reforçar a visão de inflação temporária, Faganello ressalta que há chance de o real ter valorização adicional, com condições até de cair abaixo de R$ 5,00. O fluxo de estrangeiros também segue forte na B3. No mês, já ingressaram com R$ 12,099 bilhões na Bolsa.
Para a analista principal do rating soberano do Brasil na S&P Global Ratings, Livia Honsel, o câmbio e ativos brasileiros têm se beneficiado da visão de curto prazo de melhora da perspectiva de crescimento da economia e do cenário fiscal menos desfavorável. Mas ela alertou nesta segunda, em live do jornal <i>Valor Econômico</i>, que o Brasil precisa prosseguir com as reformas estruturais e o ajuste fiscal, ou não vai conseguir estabilizar a dívida.
Sobre o Fed, o líder de análise para a América Latina na S&P, Sebastian Briozzo, afirma que os bancos centrais de países desenvolvidos terão de sair do ambiente de políticas monetária excepcionais em direção a níveis mais normais. Ele alerta que, apesar da alta esperada das taxas ser pequena, este processo pode ser acompanhado de ruídos e volatilidade, como historicamente tem sido os momentos de mudanças de estratégia dos BCs.
A reunião do Fed, destacam os estrategistas de moedas do holandês ING, é o último grande evento de risco antes das férias de verão no Hemisfério Norte. O maior interesse é ver como está a avaliação dos dirigentes sobre a inflação, se ainda vai seguir majoritariamente sendo vista como transitória, após dados recentes acima do esperado.
Para eles, é no simpósio anual de Jackson Hole, no final de agosto, que o BC americano deve anunciar o início da redução das compras de ativos.