Renovados temores relacionados aos impactos econômico da rápida disseminação do coronavírus fora da China dão o tom aos negócios no exterior e na B3 não deve ser diferente nesta sexta-feira, 28. O principal índice à vista não só deve registrar perdas no início dos negócios, como também fechará o mês com declínio forte. Até o momento, acumula queda perto de 9,50% em fevereiro.
Se a expectativa de queda mensal for confirmada, será o segundo mês de fevereiro consecutivo que ficou no negativo. Em fevereiro de 2019, a variação negativa foi de 1,86%. Além disso, pode ser o pior mês desde maio de 2018 (-10,87%), quando ocorrera a greve dos caminhoneiros.
As bolsas europeias cedem na faixa de 3,00%, enquanto os índices futuros de Nova York têm declínio superior a 1,00%, embora haja expectativa de declínio no juro norte-americano. Já o Ibovespa perdeu há pouco os 102 mil pontos (101.809,62 pontos), com queda de 1,14%, às 10h54.
O espalhamento do vírus por países da Europa, Ásia, África e Brasil reacende preocupações quanto a seus efeitos, elevando a possibilidade de medidas de estímulos pelos bancos centrais. Além disso, incertezas em relação às estatísticas sobre o vírus no planeta elevam a insegurança nos mercados.
"Há fortes dúvidas quanto aos números divulgados, e não somente na China, mas inclusive aqui no Brasil fala-se que agora em 300 suspeitos. Fora que a agenda de indicadores está carregada. Então, o investidor vai buscar ativos mais líquidos e com boa geração de caixa", afirma Sandra Peres, analista da Terra Investimentos.
Assim como na véspera, a maioria das ações do setor financeiro sobe, ajudando a limitar a queda na B3. "É um setor que não é afetado diretamente pelo coronavírus, paga bons dividendos", diz.
Na quinta, o Ibovespa fechou com queda de 2,59%, aos 102.983,54 pontos, na mínima do dia. A tendência, afirma, é que tão logo ronde os 100 mil pontos, podendo até romper esta marca.
A queda em torno de 2% no fechamento do mercado chinês hoje e o recuo em torno de 3,00% do petróleo esta manhã devem ser bons condutores das ações ligadas a commodities na B3, que tem peso considerável. As aéreas voltam a ser penalizadas, com recuo de quase 3% nos papéis da Gol e da Azul. As blue chips Petrobras e Vale cedem perto de 1,00%.
Além de dados de atividade que sairão nos Estados Unidos pela manhã, a analista cita ainda o Índice de Gerentes de Compras (PMI) Industrial de Serviços de fevereiro, que será informado apenas às 22 horas. Isso porque o indicador já deve captar os impactos do coronavírus sobre o país asiático.
"Deve ser um bom dado para o mês que vem e um indicativo do que pode ser a Super Quarta-Feira 18 de março, não somente em relação à decisão de política monetária do Fed EUA, bem como do Copom Brasil, explica, que, por ora, acredita que há mais possibilidade de corte do juro norte-americano do que da Selic, que está em 4,25%.
A despeito eventualmente de uma redução no juro básico ocorrer num momento em que há fortes temores com o desaquecimento mundial, Sandra avalia que a medida, se concretizada, ainda será benéfica para a Bolsa brasileira. Porém, cita que a continuidade da agenda de reformas precisa avançar de fato, já que havia a expectativa disso no início do ano, mas até agora nada ocorrera. Conforme ela, "sem dúvida", a crise política entre o Palácio do Planalto e o Congresso só desfavorece esse andamento.
"A Bolsa só andou por conta do investidor interno, enquanto o externo não quer pagar pra ver, quer ver concretude, só vai voltar se houver reformas", diz Sandra.