A brasileira Ana Sátila fez história nos Jogos de Tóquio ao conquistar o melhor resultado de uma mulher brasileira na modalidade. O 10º lugar na final do C1 veio após dois erros cometidos na final. Dois dias antes, ela havia ficado na 13ª posição no K1, nas semifinais, e não conseguiu vaga na decisão.
Ana Sátila vinha em grande forma tanto no K1 quanto nas semifinais do C1. No entanto, sofreu duas punições em sua descida na final. Uma por tocar uma das portas e outra por falhar uma delas, o que acarreta a maior penalidade: um acréscimo de 50 segundos no tempo final. Por isso, terminou na última posição, com 164s71, muito distante das primeiras colocadas. Sem as punições, poderia ter ficado em quarto lugar.
A medalha de ouro ficou com a australiana Jessica Fox, com 105s04, que era a grande favorita. A prata foi para a britânica Mallory Franklin, com 108s68. E o bronze ficou com a alemã Andrea Herzog, com 111s13.
Ana Sátila é um desses casos raros de talento precoce no esporte. Ela praticava natação em Primavera do Leste (MT) sob os cuidados do pai, um grande incentivador da atividade física. Mas aos poucos foi tomando gosto pela canoagem slalom e seu talento chamou a atenção de especialistas na modalidade. Então ela foi convidada para ir para Foz do Iguaçu (PR), onde a Confederação Brasileira de Canoagem tinha um programa específico.
Como tinha apenas 9 anos, mas já adorava aquele esporte de paixão, mudou-se para outro Estado e levou sua mãe junto, que começou a trabalhar como governanta na Casa dos Atletas. "A canoagem slalom era um esporte que sempre quis fazer", disse a atleta, que sabia que o pai não permitiria que ela fosse sozinha para Foz do Iguaçu.
Quando tinha apenas 16 anos ela representou o Brasil nos Jogos de Londres-2012 – era a atleta mais jovem da delegação nacional – e ficou na 16ª posição no K1. Quatro anos depois, em 2016, nos Jogos do Rio, tinha tudo para brilhar, mas acabou errando e encerrou sua participação na Olimpíada no 17º lugar na mesma prova.
Se ela era boa no caiaque, na canoa era melhor ainda e vibrou quando o C1 foi colocado no programa olímpico nos Jogos de Tóquio. Ela assim poderia disputar uma Olimpíada na prova que se dá melhor – na canoa a atleta usa apenas o remo com uma pá e fica ajoelhada enquanto no caiaque desce o canal sentada e usa remo de pás duplas.
Aliás, o foco na preparação sempre foi uma dar armas de Ana Sátila, que é reconhecida no meio da canoagem por sua dedicação aos treinamentos. "Acho que nas outras edições olímpicas eu fiquei um pouco deslumbrada e acabei perdendo cedo. Então treinei muito para ir bem", comentou.
No currículo, Ana Sátila tem três pódios em Campeonatos Mundiais, dois títulos mundiais Sub-23, três medalhas de ouro e uma de prata em Jogos Pan-Americanos e muitos ótimos resultados em etapas da Copa do Mundo de canoagem slalom, incluindo dois primeiros lugares no ano passado no C1.
Além disso, ela é especialista no caiaque extremo, modalidade que será olímpica nos Jogos de Paris-2024 e ela tem tudo para chegar ao pódio. Por ser bem jovem, é possível que represente o Brasil nas próximas edições. "Meu objetivo é inspirar outras mulheres a praticarem a canoagem slalom, pois são poucas meninas que praticam no Brasil", disse.